A propósito da referência na abertura "Palavras em dúvida, o espaço lusófono e ainda o Acordo Ortográfico" ao que foi declarado pelo convidado do programa Olhos nos Olhos da TVI24, o jornalista Nuno Pacheco, sobre o Acordo Ortográfico (AO), convém fazer algumas observações a respeito de a pronúncias no Brasil. Assim...
[Na imagem, uma adaptação do conhecido mapa dialetológico do Brasil que o filólogo e linguista brasileiro Antenor Nascentes (1886-1972) apresentou em O Linguajar Carioca, na sua segunda edição, de 1953. Proposta discutível e hoje ultrapassada, o referido mapa constitui, no entanto, uma síntese que ainda não encontrou outra que a substitua e atualize de maneira mais adequada (ver Valter Pereira Romano, Em busca de Falares a partir de Áreas Lexicais no Centro-Sul do Brasil, Universidade de Londrina, 2015, pág. 108). A adaptação provém do blogue A Formação da Língua Portuguesa do Brasil.]
A propósito da referência na abertura "Palavras em dúvida, o espaço lusófono e ainda o Acordo Ortográfico" ao que foi declarado pelo convidado do programa Olhos nos Olhos da TVI24, o jornalista Nuno Pacheco, sobre o Acordo Ortográfico (AO), convém fazer algumas observações a respeito de pronúncias no Brasil. Assim:
1. Não é verdade que todos os falantes brasileiros digam /Pariss/. Depende da região: um carioca e um paraense (e outros haverá) articulam a palavra com s chiado: /Parix/.
2. Também não é verdade que todos os brasileiros digam /Antônio/. Há regiões onde se pronuncia /António/, por exemplo, em certas cidades e circunscrições do estado de São Paulo.
3. Secção, com c pronunciado, é possível no Brasil, apesar de esta grafia corresponder aparentemente a uma pronúncia hoje minoritária. Consulte-se, por exemplo, o texto “Sessão, seção, secção ou sessão?” no blogue Comoescreve.com; ou faça-se uma pesquisa pela Folha de São Paulo, que apresenta 155 resultados para secção e 23859 resultados para seção. Nesta publicação, vemos ainda que seccional é muito mais comum que secional: esta forma tem 11 resultados, mas aquela chega aos 5197 resultados.
4. No caso de intersecção, por sua vez, parece-me esta grafia mais comum do que interseção. Por exemplo, uma nova pesquisa na Folha de São Paulo faculta 537 resultados para intersecção, enquanto interseção obtém 358 resultados.
5. No Brasil, antes e depois do AO, escreve-se exceção. Considero que, no debate, um dos convidados se quis referir ao caso das grafias excepcional e excecional. Concordo com ele, porque elas se registram como variantes, por exemplo, no Dicionário Houaiss. No entanto, o mesmo dicionário diz que a grafia (e pronúncia) excecional é rara.
6. Apesar de nunca ter ouvido corruto no Brasil, a edição de 2009 do Dicionário Houaiss registra esta forma. Na Folha de São Paulo, a forma aparece três vezes, e uma vez metalinguisticamente. Recordo que Camões usou corruto (ver aqui e aqui).