1. O Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher assinalou-se a 25 de novembro. A data é celebrada pela ONU desde o ano de 1999, em homenagem simbólica às irmãs Mirabal (Patricia, Minerva e María Teresa), que lutaram contra a ditadura de Rafael Trujillo, na República Dominicana e que, devido às suas ações, foram assassinadas de forma violenta, a 25 de novembro de 1960. Este evento associa-se ao Dia Laranja (Orange Day), uma campanha organizada pela ONU, que convida a que, no dia 25 de cada mês, se vista uma camisola laranja, numa ação de denúncia da violência exercida sobre meninas e mulheres. A cor laranja foi selecionada como símbolo de um futuro mais brilhante e sem violência. Neste contexto discursivo, podemos assinalar o uso de palavras-chave, como feminicídio («assassinato de uma mulher»), que já se encontra dicionarizada. Continuamos, contudo, a registar o recurso a muitos anglicismos, para os quais urge encontrar correspondente em língua portuguesa. Entre eles, destacamos termos como gaslighting, que descreve um tipo de manipulação psicológica que consiste numa distorção da realidade feita pelo abusador, de forma a levar a vítima a duvidar da sua memória. O termo formou-se no inglês a partir do título do filme de 1944 Gaslight, que contribuiu para a popularização do termo. O filme (adaptação de uma peça teatral) conta a história da manipulação psicológica de uma mulher (papel desempenhado por Ingrid Bergman) por um marido abusador. Seguindo o percurso de formação da palavra em inglês, por meio de um processo de extensão semântica, podemos propor, para o português, a construção «fazer meia-luz» (Meia Luz foi o título dado ao filme em português). Outros termos relevantes para esta área são stalking, de onde já se formou o verbo "stalkear", que mantém uma estrutura de matriz inglesa. Estes termos descrevem comportamentos de assédio ou de perseguição obsessiva e poderão ser substituídos por palavras portuguesas como perseguição – perseguir ou assédio – assediar. De referir ainda o uso de expressões como «revenge porn» (que descreve o ato de expor, na internet, fotografias íntimas de terceiros e que se poderá traduzir como «pornografia de vingança») e sextorsion (uma forma de chantagem baseada em fotografias íntimas da vítima ou em vídeos sexuais onde esta apareça explicitamente, com o objetivo do obter dinheiro ou favores sexuais, presenciais ou via internet, por parte da pessoa chantageada). Como tradução, tem sido usado o termo sextorsão.
2. Na obra de Eça de Queirós, Os Maias, surge a expressão «saíam às cinquenta, às cem moedas...», cujo significado, em sincronia, é já um pouco opaco. Na atualização do Consultório, apresenta-se a explicação da construção queirosiana. A esta resposta juntam-se outras: «A pronúncia do topónimo Mariz», «A sintaxe de fundamental e evoluir», «Marcadores discursivos: «no final» e «em conclusão»», «Melhoria vs. melhora», «Fazer causativo e orações de infinitivo», «Coesão referencial: «Nesse aspeto, o Reino do Butão...»» e «Adjunto adverbial: «Nem um»».
3. O desafio linguístico desta semana está relacionado com a expressão «dez-réis de mel coado», cujo significado é explicado pela professora Carla Marques no seu apontamento divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2.
4. Na rubrica O Nosso Idioma, partilhamos, com a devida vénia, um texto do editor e revisor brasileiro William Cruz, no qual o autor reflete sobre a importância dos estudos de estilística, como forma de analisar e compreender as potencialidades da exploração literária da língua: «os estudos estilísticos nos ajudam a desfazer a ideia de que a preocupação com a forma é mero artificialismo. Ideias corretas, verdadeiras e úteis podem jazer esquecidas numa prateleira empoeirada simplesmente porque lhes faltou o brilho do estilo [...] a estilística detém um excelente ferramental para educar a nossa sensibilidade linguística. O campo da estilística não é o do certo e do errado, mas o da experimentação: o que acontece se eu disser assado e não assim?»
5. Entre os eventos de relevo, destacamos:
– A ação de formação de professores coordenada pelo Ciberdúvidas da Língua Portuguesa: Áreas críticas da análise gramatical: a didática da gramática com o Ciberdúvidas, que será assegurada em parceria com o Centro de Formação Professora Maria Helena Mira Mateus, da Associação de Professores de Português (e cuja primeira edição se encontra já esgotada);
– A atribuição do Prémio de Literatura dstangola/Camões a Jorge Arrimar pela obra Cuéle – O pássaro troçador (Editora Guerra & Paz).