Assinala-se nesta data o Dia Internacional do Imigrante. A imigração representa para Portugal, inquestionavelmente, uma oportunidade de avanço, não só no plano do desenvolvimento económico, mas também no domínio cultural e linguístico.
A versão moderna da realidade quinhentista dos «povos em contacto» é também uma oportunidade para os que vivem em Portugal ficarem a conhecer alguma coisa da língua dos que escolhem o nosso país para viver. É um mito pensar que a aprendizagem das línguas deve ser sequencial. Até à idade crítica (12-14 anos), a criança pode ganhar uma multicompetência linguística quase sem esforço. Há factores biológicos que o determinam, como sejam a plasticidade do cérebro (no cérebro da criança, os dois hemisférios são mais interactuantes do que no do adulto. Depois há factores situacionais, como a exposição à língua. Numa altura em que as crianças passam muito do seu tempo a ver televisão, a dobragem pode ser um obstáculo ao acesso a outras línguas.
Qual o factor que está na afirmação de uma língua no mundo? Sem dúvida, o zelo institucional, com destaque para o papel da escola e da universidade.
Mas há uma outra via, de efeitos muito rápidos e com variáveis impossíveis de controlar. É a via do crescimento económico de um país.
O contraste entre as duas notícias abaixo é esclarecedor:
• Negócios com Angola estimulam ensino do português na China
• Sobrevivência da língua portuguesa está sob ameaça de sectores radicais
O Instituto da Língua Galega (ILG), da Universidade de Santiago de Compostela, e a Universidade Federal do Pará (UFPA) trabalham no projecto Tesouro do léxico patrimonial galego e português, com vista à construção de uma base de dados lexicográfica do galego e do português, com informações acerca das variedades dialectais faladas na Galiza, em Portugal e no Brasil.
O inventário lexicográfico é um passo fundamental no reconhecimento do estatuto de uma língua. Não é por acaso que o dicionário é a obra julgada como sendo o repositório de um idioma. Não o é, de facto. No entanto, é um instrumento essencial para a consciência metalinguística que todo ofalante tem de desenvolver, quer em relação à sua língua materna, quer relativamente à(s) língua(s) segunda(s). Daí que seja tão importante dar orientações sobre consulta de dicionários.
Antes de falarmos, já estamos a emitir sinais: através do código de vestuário e da compleição física — por muito que nos custe reconhecê-lo. Mas o passo seguinte, o exercício da fala, também não é alheio a uma estética: é necessário transmitir um discurso confiante, empático, organizado e doseadamente estilizado.
375: é o número de e-books em língua portuguesa (obras de Eça de Queirós, Cesário Verde ou Camilo Castelo Branco, entre outros clássicos) que constam do Projecto Gutenberg. O número pode não parecer muito elevado, mas há a assinalar o facto de a digitilização destas obras se dever ao Voluntariado Literário, organização constituída por 255 voluntários — portugueses, brasileiros e imigrantes lusos em vários países da Europa, cuja tarefa é eliminar as gralhas resultantes da digitalização automática.
Quanto mais revisores houver, mais obras é possível disponibilizar. Deixamos o repto aos nossos consulentes.
Reflectir maduramente sobre uma futura Academia da Língua Portuguesa — é o propósito declarado da ministra da Cultura de Portugal, Gabriela Canavilhas. A normalização do português europeu, instrumento fulcral em áreas como a comunicação social, a tradução e o ensino, é, actualmente, uma zona de ninguém. A investigação em linguística portuguesa com os países lusófonos em intercâmbio é uma quimera. Uma Academia da Língua Portuguesa, que colocasse em comunhão linguistas de várias domínios, seria um passo importante para a afirmação do português no mundo. Porque não há normalização possível sem suporte teórico consistente e sério.
O exemplo a seguir temo-lo aqui mesmo ao lado: a Nova Gramática da Língua Espanhola é hoje lançada nos países onde o espanhol é língua oficial. Alguns números: reuniu 22 academias da língua espanhola, demorou 11 anos a ser construída e estende-se ao longo de 4000 páginas. Por isso foi qualificada de «colectiva, consensual e ambiciosa» — e justamente.
Já sobre o novo Acordo Ortográfico, é certo: a ministra confirmou que «se seguirá o que está planificado, e em Janeiro entrará em vigor», com a grafia das publicações do Diário da República, a partir de 2010, a abrir caminho.
Prémio Nobel da Paz 2009: Barak Obama. Nobel é palavra aguda, ou grave? Nobelizar, nobelizado, nobelizável existem? É correcto formar o plural de Nobel? E qual a forma de plural, então?
Passemos em revista perguntas e artigos que temos sobre este tema:
O problema da CPLP está em que as decisões tomadas nas reuniões dos ministros da Cultura dos países lusófonos nunca passam de planos de intenções. A assunção é de António Augusto Barros, coordenador da Cena Lusófona, declarada na abertura do Encontro Internacional sobre Políticas de Intercâmbio, a decorrer em Coimbra.
Cf.f. Embaixador Seixas da Costa diz que CPLP não funciona e que Brasil não se empenha na organização + Marcelo Rebelo de Sousa não quer Guiné Equatorial à frente da CPLP + CPLP. “A mancha na reputação existe desde que a Guiné Equatorial foi admitida. Sete anos depois, nada mudou” + Esqueçam a CPLP e deixem o Camões em paz
"Tuitar", "blogar", "postar", "grafitar"... são palavras que, aparentemente, já sofreram adaptação gráfica, morfológica e fonética para a língua portuguesa. Não terão estas palavras direito a integrar o léxico do português?
Com direito ou sem ele, os estrangeirismos marcam presença assídua no linguajar dos surfistas, tanto assim, que são os estrangeirismos o principal traço desse tecnolecto.
Depois, há os neologismos híbridos, como ciberterrorismo ou ciberactivista... Será o caso de minilifting?
A propósito, lembramos, mais uma vez, aqui, o trabalho do Observatório de Neologia do Português (do ILTEC), que tem por objectivo recolher dados de modo a dar conta da inovação lexical no português.
Todos são convidados a participar nessa recolha de dados
Envie para mafalda.antunes@iltec.pt:
Os professores que irão ensinar português em países da América Latina precisam de formação específica para o fazer. Brasil e Portugal (neste caso, via Instituto Camões) acordaram em compartilhar essa tarefa, compromisso assumido no âmbito do Programa Acção Lisboa, discutido na XIX Conferência Ibero-Americana.
Os alunos não lusófonos, a viver em países não lusófonos, que queiram aprender português, têm de escolher entre aprender a variante do português europeu ou a do português do Brasil. As diferenças são não só fonéticas, mas também sintácticas, ortográficas (sim, mesmo com o novo acordo) e lexicais. No que a este campo diz respeito, há a assinalar, no português do Brasil, as palavras de origem tupi (capim, jacarandá, mandioca, arara, jacaré, jenipapo, tapioca, tucano, cururu, arapuca, mingau, iara, pororoca, tocaia, cuíca, etc.) e as palavras de origem africana (bagunça, berimbau, bunda, cacimba, caçula, cafuné, cochilar, jagunço, marimba, moleque, quilombo, quitanda, samba, senzala, tanga, xingar, zumbi, etc.). Mas também diferenças lexicais mais prosaicas, como rádio-despertador/rádio-relógio...
É certo que o português europeu já sofreu influência do português do Brasil, mas a homogeneização é impossível.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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