O Ministério da Cultura de Portugal, no próximo dia 7 de Junho, no Palácio Nacional da Ajuda (Sala dos Embaixadores), em Lisboa, pelas 18 horas, vai promover uma sessão de apresentação pública dos dois instrumentos produzidos pelo Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC): o conversor para o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa e o Vocabulário Ortográfico do Português, ambos financiados pelo Fundo da Língua Portuguesa.
Este evento constitui o reconhecimento oficial, para além do da comunidade científica, da validade e do rigor do trabalho desenvolvido pelo ILTEC.
O ILTEC é uma unidade de investigação (Unidade de I&D), avaliada e financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, e integra 35 investigadores, repartidos pelas áreas da lexicografia, estudo do discurso, literacia e ensino de língua.
Deixamos, neste dia, mais um tópico de reflexão: quais os sinónimos de compreender? Realizar é um anglicismo, aperceber-se é um galicismo...
E ainda um questão derivada: como avaliar o grau de genuinidade vernácula de uma palavra em português? E, sendo essa avaliação possível, em que ponto da escala devemos situar as palavras implementar, resiliente, colaborativo — ou o banal SOS?
A disciplina de língua portuguesa passará a integrar os curricula do sistema de ensino da província da Colúmbia Britânica, no Canadá.
É importante pugnar pela incorporação alargada do português como disciplina acreditada no ensino secundário, em países não lusófonos. Enquanto disciplina suplementar, o português não passará de língua residual.
Concomitantemente, é preciso reconhecer que o português não está associado a uma língua de prestígio, e que está longe de exercer o fascínio que exerce o inglês junto dos mais novos.
Reconhecer este estado de coisas é o primeiro passo para poder alterá-lo.
1. Foi apenas um dos muitos pedidos do género que vão chegando de Timor, via Internet. Quem o subscrevia – uma professora portuguesa, Joana Alves dos Santos, a dar aulas na Universidade Nacional de Timor-Leste (UNTL), no âmbito de uma colaboração com a Escola Superior de Educação do Porto – contava a sua história pessoal: «Aquilo que vos venho pedir é o seguinte: livros. Não vou dar a grande conversa que é para montar uma biblioteca ou seja o que for, porque não é. O que se passa é o seguinte... Não sei muito bem como funcionam as instituições, nem fui mandatada para angariar seja o que for, mas o que é certo é que sou (somos!) muitas vezes abordada na rua por pessoas que desejariam aprender português mas não possuem um livro sequer e vão pedindo, o que é muito bom. O que é certo é que a minha biblioteca pessoal não suportaria tanta pressão, e nem eu, nos míseros 50 quilos a que tive direito na viagem, pude trazer grande coisa para além dos livros de trabalho de que necessito.» E repetia a forma de se enviarem de Portugal os livros tão necessários em Timor: «Basta dirigirem-se aos Correios (CTT) e mandarem uma encomenda tarifa económica para Timor (insistam, porque nem todos os funcionários conhecem este tarifário!) e mandam a coisa por 2,49 €. Claro que a encomenda não pode exceder os 2 quilos para poder ser enviada por este preço.»
Nas muitas voltas que este pedido foi dando, duas entidades deram já resposta conclusiva: a Plátano Editora, que disponibilizou de imediato uma encomenda de gramáticas, dicionários, prontuários, manuais práticos de ortografia, e a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, que se responsabilizou de a fazer chegar a Timor, por via diplomática.
2. Resposta positiva deu também a Vodafone Portugal à campanha de solidariedade com vítimas da recente tragédia que se abateu sobre a Madeira. 40 famílias de duas das freguesias mais atingidas, as de Santo António e do Monde, beneficiaram de equipamentos domésticos adquiridos junto de comerciantes locais. No âmbito da sua política de responsabilidade social, a Vodafone Portugal tem promovido e apoiado inúmeros projectos relevantes através da Fundação Vodafone. É o caso do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa – além de outras iniciativas com impacto positivo na comunidade, nas áreas do ambiente, da segurança, da inclusão social e da saúde.
O que leva estudantes chineses a concluir uma licenciatura em português? Sem dúvida, a oportunidade de emprego nos países lusófonos e em Macau.
Perceber que a língua portuguesa é um impulsionador económico devia ter como contrapartida a capacidade de superar ineficiências várias: na rede de formação e colocação de professores de português língua segunda, nas infra-estruturas, na produção alargada de recursos e materiais de apoio ao ensino da língua, num maior financiamento à investigação em linguística aplicada ao ensino.
Sugerimos, a propósito, o (re)visionamento do documentário Além de nós, de Anabela Saint-Maurice.
Se o consulente quiser avaliar o grau de sarcasmo presente nesta quadra, vai poder fazê-lo — objectivamente. Cientistas israelitas criaram um algoritmo que permite ao computador reconhecer a presença de sarcasmo num texto, com base na quantificação de palavras que se situam fora do campo lexical do tema visado.
Muitas das perguntas que nos chegam visam a identificação da classe de uma dada palavra. A gramática clássica começou por aí, pelas partes do discurso. Mais recentemente, um factor acrescido de perturbação, aquando da introdução da TLEBS/DT no sistema de ensino português, foi, justamente, o aparecimento de uma "nova" classe, o quantificador.
Mas para que serve arrumar as palavras em classes, se, inclusivamente, uma palavra, tomada só por si, pode ter mais do que uma classificação? (cf. mesmo.)
João de Barros, no séc. XVI, recorria à alegoria do jogo de xadrez para explicar a índole do funcionamento da língua:
«(…) E como pera o jogo de enxedrez se requerem dous reis, um de uma cor e outro de outra, e que cada um deles tenha suas pecas postas em casas proprias e ordenadas com leies, do que cada uma deve fazer […] assi todalas linguagens tem dous reis, diferentes em genero, e concordes em oficio: a um chamam Nome e ao outro Verbo. Cada um destes reies tem a sua dama: a do Nome chamam Pronome e a do Verbo, Adverbio. Participio, Artigo, Conjugacam, Interjeicam, sam pecas e capitaes que debaixo de sua jurdicam tem muita pionagem de dicoes, com que comummente servem a estes dous poderosos reies, Nome e Verbo (…).» (1540)
Conhecer a classe de palavra é saber identificar as peças. Falta saber jogar — e saber explicar as regras do jogo enquanto se joga.
Um professor de português que é árbitro de uma federação de futebol. Uma turma de alunos adeptos do desporto-rei. País: Brasil. Objectivo: aprender vocabulário e técnicas de redacção através da análise de jogos de futebol. É uma espécie de ensino de língua para fins específicos. O sítio Babbel oferece essa modalidade de ensino de português língua estrangeira, justamente, na modalidade de futebol. Só que, desta vez, os alunos nativos é que são o público-alvo.
Não faltam alunos luso-descendentes, na Europa e na América, a querer aprender português; não faltam professores — aliás, sobram. Houve 30 milhões de euros gastos em dois anos e já foi anunciado mais financiamento. No entanto, o número de alunos inscritos em cursos de português em todo o mundo é de apenas 84 mil. O que falta então no ensino do português?
«O brasileiro é um português à solta», disse um dia Agostinho da Silva. O português do Brasil é uma língua à solta, parece dizer Manuel Bandeira, em Evocação do Recife: «A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros Vinha da boca do povo na língua errada do povo Língua certa do povo Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil Ao passo que nós O que fazemos É macaquear A sintaxe lusíada» A abordagem normativa e a descritiva dos fenómenos da língua surgem muitas vezes postas em oposição, mas essa é apenas uma maneira cómoda de as definir. Norma e descrição da língua são dois tratamentos complementares: é a descrição da língua que dá sustentabilidade à norma quando esta, por força da vitalidade da língua, entra em contradição evidente com os usos reais. A propósito deste tema, sugerimos a leitura de alguns artigos de interesse: |
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