Aberturas - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. « (...) Dias há em que mais valia não ligar a televisão», escreve o jornalista Wilton Fonseca em mais um apontamento à volta de erros e desleixos na escrita jornalística em Portugal.

2. Interrompido com as férias natalícias e do fim de ano, o consultório do Ciberdúvidas volta às suas atualizações diárias no dia 2 de janeiro. Até lá, ficam os nossos votos de boas festas a todos os amigos da língua portuguesa.



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Esta é a última atualização do consultório do Ciberdúvidas antes do Natal (regressamos em 2 de janeiro). Podíamos aproveitar o ensejo para advertir o consulente de que não deve dizer "pais-natal", mas, sim, pais-natais; de que seráfico se escreve com s, pois não vem de cera; de que presépio não é nome coletivo (independentemente da inconsequência da classificação) e outras normas quejandas.

Mas não. Deixamos-lhe antes uma página de Cadeira de Balanço, de Carlos Drummond de Andrade. Um texto longo, sem imagem — para ler.

Alguém observou que cada vez mais o ano se compõe de 10 meses; imperfeitamente embora, o resto é Natal. É possível que, com o tempo, essa divisão se inverta: 10 meses de Natal e 2 meses de ano vulgarmente dito. E não parece absurdo imaginar que, pelo desenvolvimento da linha, e pela melhoria do homem, o ano inteiro se converta em Natal, abolindo-se a era civil, com suas obrigações enfadonhas ou malignas. Será bom.

Então nos amaremos e nos desejaremos felicidades ininterruptamente, de manhã à noite, de uma rua a outra, de continente a continente, de cortina de ferro à cortina de nylon — sem cortinas. Governo e oposição, neutros, super e subdesenvolvidos, marcianos, bichos, plantas entrarão em regime de fraternidade. Os objetos se impregnarão de espírito natalino, e veremos o desenho animado, reino da crueldade, transposto para o reino do amor: a máquina de lavar roupa abraçada ao flamboyant, núpcias da flauta e do ovo, a betoneira com o sagüi ou com o vestido de baile. E o supra-realismo, justificado espiritualmente, será uma chave para o mundo.

Completado o ciclo histórico, os bens serão repartidos por si mesmos entre nossos irmãos, isto é, com todos os viventes e elementos da terra, água, ar e alma. Não haverá mais cartas de cobrança, de descompostura nem de suicídio. O correio só transportará correspondência gentil, de preferência postais de Chagall, em que noivos e burrinhos circulam na atmosfera, pastando flores; toda pintura, inclusive o borrão, estará a serviço do entendimento afetuoso. A crítica de arte se dissolverá jovialmente, a menos que prefira tomar a forma de um sininho cristalino, a badalar sem erudição nem pretensão, celebrando o Advento.

A poesia escrita se identificará com o perfume das moitas antes do amanhecer, despojando-se do uso do som. Para que livros? perguntará um anjo e, sorrindo, mostrará a terra impressa com as tintas do sol e das galáxias, aberta à maneira de um livro.

A música permanecerá a mesma, tal qual Palestrina e Mozart a deixaram; equívocos e divertimentos musicais serão arquivados, sem humilhação para ninguém.

Com economia para os povos desaparecerão suavemente classes armadas e semi-armadas, repartições arrecadadoras, polícia e fiscais de toda espécie. Uma palavra será descoberta no dicionário: paz.

O trabalho deixará de ser imposição para constituir o sentido natural da vida, sob a jurisdição desses incansáveis trabalhadores, que são os lírios do campo. Salário de cada um: a alegria que tiver merecido. Nem juntas de conciliação nem tribunais de justiça, pois tudo estará conciliado na ordem do amor.

Todo mundo se rirá do dinheiro e das arcas que o guardavam, e que passarão a depósito de doces, para visitas. Haverá dois jardins para cada habitante, um exterior, outro interior, comunicando-se por um atalho invisível.

A morte não será procurada nem esquivada, e o homem compreenderá a existência da noite, como já compreendera a da manhã.

O mundo será administrado exclusivamente pelas crianças, e elas farão o que bem entenderem das restantes instituições caducas, a Universidade inclusive.

E será Natal para sempre.

 

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Cozinhar em Português é um livro que ensina a língua ao mesmo tempo que põe o aluno a cozinhar. É um material original no universo da oferta de recursos de ensino do português língua estrangeira.

A autora, Liliana Gonçalves, é mestre em Português Língua Segunda/Língua Estrangeira e leciona desde 2005 na Universidade de Comunicação da China, em Pequim. 

A chancela é da Lidel.

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A Educare.pt, da Porto Editora, publica uma interessante reportagem sobre três casos de professores, de português e de outras disciplinas, a lecionar no estrangeiro. Sob o relato de experiências, há o pano de fundo das condições de lecionação no estrangeiro: concursos, avaliação e a conservação da autoridade do professor.

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Em Goa, onde desde 1962 o inglês é língua oficial, o português continua a ser ensinado a mais de 1300 alunos, em escolas públicas e privadas, e a Universidade de Goa tem um mestrado em Estudos Portugueses desde 1988. O ponto da situação é feito por Delfim Correia da Silva, responsável pelo Centro de Língua Portuguesa em Goa. Todos os anos, cerca de 400 goeses obtêm passaporte português, com o objetivo de emigrar e trabalhar em Portugal.

Mas, dizem os mais velhos que ainda falam a língua de Camões: «A cultura portuguesa em Goa tem os dias contados.»

Só é assim, se assim deixarmos que seja.

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Os filhos de imigrantes de países de línguas oficiais diferentes têm condições ótimas para o bilinguismo, condições que nunca deveriam ser desperdiçadas. Já aqui referimos os benefícios do bilinguismo, mas há a destacar um, em estilo de paráfrase deste artigo do The Washington Post: o indivíduo bilingue é o que mais facilmente conquista uma invejável posição nos mercados de trabalho futuros.

E a questão é tanto mais pertinente quanto mais se sabe sobre a incerteza do ensino do português no estrangeiro a filhos de emigrantes portugueses.

A propósito, o Coletivo para a Defesa do Ensino do Português no Estrangeiro vai apresentar uma queixa ao provedor de Justiça contra o Estado português por considerar que a redução do número de professores em França viola a Constituição.

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Merece pleno destaque, nesta atualização, a crónica do jornalista brasileiro Romildo Guerrante sobre os efémeros chavões, bengalas, tiques de linguagem, modismos e solecismos nas páginas dos jornais. Não é uma simples avaliação de sensibilidade e bom gosto, mas um aviso de que assim se faz definhar o poder expressivo do discurso: «Tudo agora é “por conta de”, que significa apenas a responsabilidade pelas despesas num bar. Mas ficou assim: o trânsito tá ruim? É por conta de um acidente. O hospital fechou? Foi por conta da falta de verbas. Nada é devido a, nada é por causa de, nada decorre de nada, nada é função de algo.»

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Houve alguém que disse que, no futuro, o livro impresso estaria para a leitura como a vela está para a produção de luz: um adorno, uma curiosidade. Será essa a tendência, pelo menos a julgar pelas conclusões desta reportagem sobre o impacto do iPad numa turma de terceira classe em Nova Jérsia (EUA). Por arrasto, preveem-se modificações no modo de ler e no modo de falar da leitura, povoado de e-books, gadgets, downloads, plugins e afins.

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O encerramento de postos consulares e os cortes na rede de ensino estão a mobilizar os emigrantes portugueses na Europa em protestos contra as políticas do Governo de Lisboa, que acusam de virar costas a quem vive no estrangeiro.