Pode pensar-se que basta usar-se um bom dicionário para se fazer a tradução certa. Se assim fosse, que sentido teria a especialização na área de tradução? Traduzir implica, essencialmente, ter-se o domínio da língua materna e o da estrangeira, conhecer-se as matizes do vocabulário de cada situação, aplicar-se o léxico adequado a cada realidade. Embora o uso do inglês se tenha vindo a disseminar em quase todas as áreas, a verdade é que muitos falantes querem continuar a usar a sua língua, a oficial e materna, mesmo que isso implique dificuldades, sobretudo, no meio técnico. «Não consigo encontrar um boa tradução para a expressão «to be supported» em termos de tecnologia», «Como traduzir termos ingleses cujos signos não se encontram registados nos dicionários de Português? E quando, num portal de língua portuguesa, ocorre uma funcionalidade designada com um galicismo?
Dúvidas sobre topónimos — a etimologia e o uso da preposição em com ou sem artigo a preceder o nome de uma freguesia — e os apelidos (antropónimos), assim como o emprego de maiúscula ou minúscula após os sinais de pontuação são outros dos temas das respostas deste dia.
Surdos e pessoas com deficiência auditiva passaram a poder utilizar o telemóvel em Portugal, graças a um serviço em Língua Gestual Portuguesa promovido pela Vodafone, pela primeira vez no país. Notícia mais desenvolvida aqui. Veja-se, também, o vídeo com a notícia do jornal "Público".
Deve dizer-se/escrever-se desta, ou daquela forma? Coloca-se o pronome antes, ou depois do verbo (auxiliar ou principal)? Qual das preposições é mais correta nesta frase? Que conetores podem ocorrer em estruturas com enumeração? Esta palavra é masculina, ou feminina? É possível fazer-se a flexão de uma moeda? Tal substantivo/nome é sobrecomum, ou comum de dois géneros?
As alternativas colocadas nas perguntas que nos são apresentadas — objeto das respostas deste dia — revelam a incessante busca dos falantes pela forma perfeita, sem mácula, marca de domínio da língua.
«Pode-se usar dois-pontos dentro de dois-pontos? Por exemplo, em A Cidade e as Serras (edição da Livros do Brasil, p. 143), há a seguinte frase: «Estava precioso: tinha fígado e tinha moela: o seu perfume enternecia: três vezes, fervorosamente, ataquei aquele caldo.”» É recomendável este uso invulgar do sinal de pontuação? Ou estará circunscrito a alguma escrita literária? Tema nada consensual, merece duas análises — Ao arrepio da norma e Uma possibilidade estilística do código literário — colocadas em O Nosso Idioma.
Outras áreas linguísticas das respostas deste dia: a concordância, as especificidades da regência dos verbos e a consequente sintaxe, o valor das palavras e estruturas idênticas no discurso e as particularidades do uso da pontuação – da vírgula e do travessão.
«[...] é o verbo que faz mover
o discurso, dando à existência a sua qualidade
activa, e transformando-a no ser idêntico
que reúne em cada sujeito e estado, sem
distinguir uma ideia de outra. Porém, a
conjugação dos tempos e modos multiplica
o que dizemos por nós, por vós e por eles,
desde o passado ao futuro;»
Consciente do peso do verbo no nosso discurso, o poeta português Nuno Júdice dá-lhe o estatuto de tema poético em Gramática: o verbo.
Não fazer a conjugação correta do verbo em qualquer tipo de discurso gera situações bastante constrangedoras por que ninguém deseja passar. Área tantas vezes negligenciada, porque se criou o hábito de se confiar plenamente no saber intuitivo da língua, a realidade é que a mínima falha, ou mesmo indecisão, na flexão verbal — quer se trate de um complexo verbo defetivo ou de um irregular, de um impessoal ou, mesmo, de um regular — compromete irremediavelmente o seu emissor, sendo (quase) considerado como fatal não se saber fazer o uso adequado das formas verbais. Intrinsecamente ligada aos verbos, a colocação dos pronomes (enclítica ou proclítica) tem-se revelado como outra dúvida recorrente, assim como a preocupação em se distinguir o valor exato de cada palavra, sobretudo se se trata de casos cuja sintaxe implica a ocorrência de preposições (regências).
Estes são os temas das respostas deste dia, em que se destaca, também, a análise do processo de formação de palavras.
Muitos nomes de animais e de plantas são palavras compostas, ricas e sugestivas, frequentemente ligadas por preposição ou outro elemento. À composição está intimamente ligada a ideia de representar a singularidade de cada ser na imensidade das espécies botânicas e zoológicas: campainhas-amarelas, fava-de-água, borboleta-azul-das-turfeiras, pica-pau, pica-pau-amarelo, pica-pau-de-penacho, pica-pau-de-bico-comprido, pica-pau-de-barriga-vermelha, formiga-branca, amor-perfeito… Terá a sua grafia mudado com o Acordo Ortográfico? Ou mantém-se fiel à norma de 1945? Quando se faz a hifenização? Como se distinguem os casos de aglutinação e de separação dos elementos de qualquer composto, locução ou encadeamento vocabular? E em que situação fica a grafia das palavras derivadas? Tantas questões relativas à nova grafia, o tema privilegiado da atualização do consultório, que se dedica, também, a questões da sintaxe.
A obra publicada de Machado de Assis passou a estar toda reunida numa só página. Dito de outra maneira, a Biblioteca Digital do Ministério da Educação brasileiro e o Núcleo de Pesquisa em Informática, Literatura e Linguística (NuPILL) da Universidade Federal de Santa Catarina juntaram esforços para «apresentar uma edição que se pretende a mais completa possível», a partir de três edições das obras de Machado de Assis, além de publicações esparsas lançadas, sobretudo, no centenário da morte do escritor. A nova compilação visa substituir aquela que fora feita pelo Ministério da Educação, mas que continha lacunas e imperfeições.
O valor e a dimensão da língua portuguesa na Internet estão em análise a partir deste dia até 26 de abril no 3.º Colóquio Internacional da Língua Portuguesa, organizado pelo Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), em parceria com a Unilab (Universidade de Integração da Lusofonia Afro-Brasileira) e o Conselho Nacional de Educação, em Guaramiranga, no estado do Ceará (Brasil).
«Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões», exterioriza, cantando, o músico e letrista brasileiro Caetano Veloso no belo poema/canção Língua. Língua de Camões, «última flor do Lácio», «Sambódromo, Lusamérica, latim em pó», madre língua portuguesa, formas poéticas de aquém e de além-mar para se designar o mesmo: a língua portuguesa, idioma de todos quantos os que o sentem como seu, como língua oficial ou natural, enriquecido pela diversidade de sons e de tons, de cores e de sabores dos universos onde se enraizou.
Sem se libertar da norma, o português destaca-se como língua aberta às realidades do uso, permitindo a ocorrência de várias formas verbais (tendo em conta o seu valor e desde que concordando com os respetivos sujeitos), mas exigindo a precisão do léxico adequado, espraiando-se em simbólicos pleonasmos e metáforas dos discursos literários.
«Todo mundo aceita que ao homem/ cabe pontuar sua vida», mensagem com que inicia o texto Questão de Pontuação, do poeta brasileiro João Cabral de Melo Neto, evidenciando a pertinência e a simbologia dos sinais de pontuação. Como códigos gráficos que procuram suprir a carência dos recursos melódicos e rítmicos da língua falada, os sinais da pontuação são determinantes na escrita. Por estarem destinados a reconstruir as pausas e as entoações do discurso oral, a ocorrência da vírgula e dos dois-pontos é matéria de muitas dúvidas entre os que se servem da escrita.
Outro motivo de pausa na escrita é a ortografia, as questões sobre a grafia das marcas estrangeiras e do uso de maiúsculas/minúsculas nas designações dos factos históricos. A análise de casos particulares com valor imperativo e da especificidade da linguística são, também, temas das respostas deste dia.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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