Recebemos o 1.º de Maio e os seus festejos – ancestrais (na imagem à esquerda, uma maia, boneca tradicional do Algarve) ou ligados à história sindical, mais antiga ou mais recente – com oito novas respostas, que abordam tópicos respeitantes à etimologia de nomes comuns e próprios, à variação de vocábulos e locuções, ao uso de gentílicos e sinónimos, bem como às questões sintáticas que envolvem quer complementos quer possessivos. Fica também em linha, na rubrica O Nosso Idioma, um novo texto do jornalista e professor angolano, Edno Pimentel:"Isso é mesmo português?". E, no Pelourinho, divulga-se uma crónica do jornalista português Ferreira Fernandes, sobre como um suposto provérbio pode comprometer a coerência do discurso político. A propósito de provérbios, rememoremos alguns relacionados com o mês que ora entra, disponíveis no blogue Ler para Crer.
Entretanto, a nova atualização do consultório fica marcada para segunda-feira, 5 de maio.
Faleceu em Lisboa, em 27 de abril de 2014, o escritor Vasco Graça Moura, figura marcante da vida cultural e política de Portugal. O Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, que teve dele sempre todo o apoio, recorda-o em todas as suas múltiplas facetas e talentos, como poeta, tradutor, letrista, político, polemista, denodado adversário do Acordo Ortográfico, mas, acima de tudo, como um brilhante cultor da língua. Para apreender a dimensão do legado intelectual de Vasco Graça Moura, acompanhe-se aqui a emissão que o programa de rádio Vidas Que Contam, realizado por Ana Aranha e transmitido pela Antena 1, dedicou ao escritor em 21 de junho de 2013. Leia-se ainda a entrevista por ele concedida à revista Visão em 20 de março de 2014. Por último, veja-se o vídeo que o Jornal de Letras (JL) inclui em edição eletrónica.
A língua é feita por quem a fala, e ilude-se quem julga possível despojar o discurso e as palavras da história social que nelas se inscreve.
Há 40 anos, em 25 de Abril de 1974, desencadeava-se em Portugal uma revolução ideológica, política e social com enorme impacto linguístico (na imagem, à esquerda, o conhecido cartaz de Maria Helena Vieira da Silva, A poesia está na rua, 1975, Centro de Arte Moderna, Lisboa). Palavras e expressões como povo, democracia, igualdade, revolução, socialismo, capitalismo, sociedade sem classes, reforma agrária, nacionalizações, descolonização, reação, manifestação, greve e outras eram recorrentes na comunicação oral e escrita, espelhando preocupações centradas na busca ou na reivindicação de um modelo de sociedade capaz de promover a liberdade de expressão, a participação democrática e a justiça social.
O Ciberdúvidas da Língua Portuguesa associa-se também às comemorações desta data, sugerindo a consulta de dois artigos da rubrica O Nosso Idioma, com os quais se documenta a maneira como se foi fazendo depois a história linguística do 25 de Abril. Trata-se de Palavras que nasceram com a década [1974-1984], texto escrito por José Mário Costa para assinalar o 10.º aniversário da Revolução dos Cravos, e O 25 de Abril no léxico português, um estudo proposto por Margarita Correia em 2003.
Quatro décadas volvidas, que eco ainda têm neste dia as palavras e expressões mencionadas? Umas não se ouvem ou não se leem; outras parecem ter encontrado novos enquadramentos e novos sentidos, muitas vezes até em contradição com o seu passado semântico, como observa Daniela Cordeiro, em A (falsa) reforma da palavra reforma (também disponível em O Nosso Idioma). E, à semelhança de reforma, que dizer de liberdade, democracia, cidadania, empreendedorismo ou do tão insistente ajustamento? A resposta merece certamente um estudo linguístico atento, porque as palavras e os discursos que elas tecem são como caixas negras (ou caixas-pretas no Brasil) destas nossas viagens coletivas pela História.
Na VIII Reunião dos Ministros da Educação da Comunidade dos Países Língua Portuguesa (CPLP), realizada em Maputo, no dia 17 de abril, a aplicação do Acordo Ortográfico (AO) foi tema de análise. Sobre esta questão, o secretário executivo da CPLP, e também diplomata moçambicano, Murade Murargy, avançou que a ratificação do Acordo Ortográfico por Moçambique poderá ocorrer até ao final da presente legislatura do país. Mas o ponto 6 da declaração final deste encontro sugere que Angola continua reticente e o processo de generalização da reforma ortográfica a toda a CPLP pode demorar – citemo-lo:
«[Os ministros da Educação da CPLP decidem] [i]nstar o Conselho Científico do IILP [Instituto Internacional da Língua Portuguesa], através do Secretariado Executivo da CPLP, a incluir na agenda da sua próxima reunião os seguintes pontos, para análise e pronunciamento:
♦ Parecer oficial sobre o Acordo Ortográfico de 1990, apresentado por Angola;
♦ Diagnóstico relativo aos constrangimentos e estrangulamentos na aplicação do Acordo Ortográfico de Língua Portuguesa de 1990;
♦ Ações conducentes à apresentação de propostas de ajustamento do Acordo Ortográfico de 1990, na sequência da apresentação do referido diagnóstico; [...].»
A propósito desta decisão, observe-se que o IILP tem agendada uma reunião do seu Conselho Científico para os dias 12 e 13 de maio, em Cabo Verde. Entretanto, é de recordar que a reforma ortográfica está a ser aplicada no Brasil e em Portugal, esperando-se que o mesmo processo comece noutros países lusófonos que já ratificaram o AO, ou seja, Cabo Verde, bem como São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e Timor-Leste. E, como já foi aqui noticiado, refira-se que os trabalhos para a elaboração do Vocabulário Ortográfico Comum (VOC) têm prosseguido como previsto, contando já com os vocabulários ortográficos nacionais do Brasil, de Moçambique, de Portugal e de Timor-Leste.
«Agir com "descrição" e reserva»?! Na rubrica Pelourinho, Wilton Fonseca, observando que a forma correta é «discrição e reserva», faz crónica de como o conhecimento da língua inclui a capacidade de evitar as armadilhas das palavras parónimas (isto é, vocábulos com grafia e pronúncia muito semelhantes). Ainda com Wilton Fonseca, ficamos a saber, em O Nosso Idioma, o que significa exatamente espólio, que nada tem que ver com expor. Na Antologia, divulga-se um excerto do livro A Bicha e a Fila, de Manuel Rui e Marco Guimarães, no qual a sinonímia ou o contraste das palavras do título são, afinal, espelho das sociedades angolana, brasileira e portuguesa. Finalmente, regressam nesta data as atualizações do consultório com dúvidas sobre aportuguesamentos, compostos, famílias de palavras e locuções.
Enquanto decorre a época da Páscoa, o consultório faz uma pausa (o regresso é já na segunda-feira, 21 de abril), mas as demais rubricas continuam a receber novos artigos. Assim, Paulo J. S. Barata dá conta, no Pelourinho, de mais uma ocorrência de pleonasmo no discurso mediático. E, já que o período festivo convida à calma e à reflexão, tornemos à (re)leitura dos clássicos da nossa língua comum. É o que propõe O Nosso Idioma, onde Ana Sousa Martins evoca Fernão Mendes Pinto (1509?-1583?) e a sua Peregrinação, observando: «[...] ao ler a Peregrinação ganha-se uma sensibilidade, um olhar especial sobre as palavras e o percurso que elas fazem ao longo dos séculos até aos dias de hoje.» Para contextualizar esta obra ímpar – e para conhecer igualmente as virtudes e os defeitos associados à expansão da língua portuguesa no Oriente –, acompanhe-se o seguinte vídeo (documentário de 2009, também disponível no portal Ensina da RTP):
Entretanto, como sempre, ficam ainda disponíveis para pesquisa as mais de 32 000 respostas em arquivo, bem como os quase 3000 textos que se podem consultar nas diferentes rubricas do Ciberdúvidas (Pelourinho, O Nosso Idioma, Ensino, etc.).
Boa Páscoa!
Conforme já aqui demos conta, o consultório faz uma pausa durante o período da Páscoa para regressar no dia 21 de abril. Mas, como sempre, ficam disponíveis para consulta as mais de 32 000 respostas em arquivo, bem como os quase 3000 textos que se podem consultar nas diferentes rubricas do Ciberdúvidas (Pelourinho, O Nosso Idioma, Ensino, etc.). A propósito entretanto da época, sugerimos a leitura de uma resposta antiga sobre a etimologia do nome próprio Páscoa, desde os seus primórdios hebraicos até à forma que hoje tem em português.
A presente atualização do consultório aborda tópicos variados, salientando-se:
– a pronúncia e a grafia de mantícora, nome de um animal fantástico (na imagem, à esquerda);
– o uso de transplantado, em referência a quem se submeteu a um transplante;
– o juízo normativo a respeito do verbo direcionar.
Em O Nosso Idioma, Edno Pimentel conta mais um episódio à volta do português usado em Angola. Paulo J. S. Barata, por seu lado, relembra no Pelourinho qual é o comparativo de bem com um particípio passado.
Entretanto, assinale-se que, no período da Páscoa, fica bloqueado o acesso ao formulário para envio de questões, de modo a fazer-se uma pausa nas atualizações do consultório. O regresso fica marcado para 21 de abril, mas atualidades e novos artigos sobre a língua portuguesa continuam a marcar aqui presença.
«Enquanto Portugal não desperta para a Galiza, são os galegos que fazem o trabalho de casa» – assim se refere uma reportagem intitulada "Falarás a nossa língua" e transmitida pela Antena 1, em 7/04/2014, ao esforço feito pela Galiza para revitalizar velhos laços culturais e linguísticos com o mundo de língua portuguesa. Nesse trabalho, anuncia-se o lançamento no verão de 2014 de um novo dicionário em linha por parte da Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP)*. Escutemos, entretanto, o que dizem vários galegos acerca do interesse que tem para eles o estudo do português – aqui.
*Assinale-se que, na Galiza, em 9/04/2014, entrou em vigor a lei decorrente da aprovação da Iniciativa Legislativa Paz-Andrade, com a qual se pretende uma maior aproximação aos países da lusofonia e a introdução do português como matéria de estudo em todo o sistema educativo galego.
Em Portugal, a pronúncia de dezoito pode ser indicativa da proveniência de um falante. Com efeito, tem-se a noção de que dezoito com o o fechado ("dezôito") é a forma típica dos falares da metade norte do país; além disso, tal maneira de pronunciar é própria do português do Brasil. Que diz a tradição normativa portuguesa sobre o assunto? Este é um dos tópicos abordados na nova atualização do consultório, que inclui ainda questões sobre a concordância dos infinitivos selecionados pelo verbo convidar e a origem de dois apelidos (sobrenomes) aristocráticos – Lafetá e Patalim.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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