A presente atualização sublinha a importância da perspetiva histórica para a compreensão da língua portuguesa, dando relevo ao seu património de origem latina. Por exemplo, como se explica que, em linguagem mais corrente, o vocábulo prémio, a recompensa que se recebe, seja usado quase em sentido inverso, como pagamento feito por alguém, no âmbito da atividade seguradora? Em O Nosso Idioma, Gonçalo Neves, tradutor, latinista e especialista de interlinguística, dedica um estudo pormenorizado sobre as origens latinas desta palavra, traçando a sua evolução semântica no ramo dos seguros. Refira-se que o vastíssimo contributo do latim para a compreensão de várias facetas da língua portuguesa não tem recebido em Portugal a atenção devida. Antes pelo contrário. Como se dá conta, por exemplo, em Encómio ao latim + Da Matemática ao Latim + Ir ao dicionário e brincar com as palavras + Latim: língua (mais que) morta? + Vitam regit sapientia, non fortuna + Um país sem Latim.
"[O] Latim a remar contra a maré" é o que, felizmente, se pode depreender do trabalho saído neste dia no jornal Público, e que deixamos em linha na rubrica Ensino: «O Ministério da Educação e Ciência está a estudar o reforço do ensino do Latim e da Cultura Clássica no ensino básico e secundário. A proposta teve origem [no Conselho] Nacional de Educação em diálogo com as associações de professores e universidades. A UNESCO, em 2010, recomendou aos países com línguas de origem latina que ensinem o Latim nas escolas.»
Vale por isso a pena (re)ler o artigo "Portugal e o latim", publicado em 2014 no mesmo jornal – que, com a devida vénia, deixamos também registado na rubrica Ensino. Argumentando a favor da recuperação urgente do ensino do latim em Portugal, interrogava a autora, Susana Marta Pereira: «Será possível que ninguém queira aprender Latim em Portugal? [...] Há verdadeiramente interesse, por parte de quem decide, que a situação mude? Já alguém, que tenha poder decisório, tentou averiguar honestamente e sem cair em lugares-comuns o que se passa com o ensino do Latim em Portugal?»
Sobre o interesse que os estudos de latim suscitam igualmente no Brasil, vide o número especial que a revista Língua Portuguesa lhe dedicou em 2009.
No Pelourinho, um breve comentário sobre como a preocupação com a crise vivida em Portugal não desculpa as pronúncias incorretas de precariedade e rubrica como, respetivamente, "precaridade" e "rúbrica". Quanto ao consultório, apesar de o envio de perguntas se encontrar interrompido durante a semana de celebração da Páscoa (até 6 de abril p. f.),* não deixamos de publicar respostas que aguardavam divulgação, a saber: em referência aos graus de um ângulo, como se usa inclinado? A expressão enfática «é que» é precedida de vírgula? Como analisar uma frase em que ocorre hospedar?
*Lembramos que, para assuntos que não sejam relativos a dúvidas linguísticas, continuamos disponíveis através dos contactos indicados aqui.
Ainda a propósito da história de palavras e expressões, chamamos a atenção para um texto publicado no jornal digital Observador, a respeito das muitas expressões que se fixaram no português coloquial de Portugal por via do talento do humorista Herman José. Algumas delas aí recordadas: «o verdadeiro artista», «ó pra mim», «uma pomada», «não havia necessidade» e «eu é mais bolos».
Assinale-se o ciclo de conversas Minha língua, minha pátria, organizado pelo suplemento Ípsilon do jornal português Público e pela Livraria Cultura (Brasil), com apoio do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua. Trata-se de uma iniciativa sobre a literatura em língua portuguesa que decorre de 10 a 15 de abril na Livraria Cultura no Shopping Iguatemi São Paulo e que reúne escritores, artistas e académicos portugueses e brasileiros como Gonçalo M. Tavares, Adriana Calcanhotto, Alexandra Lucas Coelho, Jerônimo Pizarro, Matilde Campilho, Gregorio Duvivier, Carlos Reis, Afonso Reis Cabral, Norberto Morais e Emilio Fraia (consultar o programa aqui).
No programa de rádio Língua de Todos de sexta-feira, 3 de abril (às 13h30*, na RDP África; com repetição no dia seguinte, 4 de abril, às 9h10*), a professora Sandra Duarte Tavares, esclarecendo várias dúvidas sobre o funcionamento da língua portuguesa, responde à seguinte pergunta: como se usam os particípios passados do verbo fixar? O Páginas de Português de domingo, 5 de abril (às 17h00*, na Antena 2), aborda as nem sempre fáceis relações entre Portugal e o Brasil quando se trata de codificar a língua, numa entrevista com a professora Isabel Rodrigues Figueira, da Universidade de Lisboa.
* Hora oficial de Portugal continental, ficando também disponível via Internet, nos endereços de ambos os programas.