1. Uma consulente do Brasil escreve-nos um tanto intrigada por em Portugal, com verbos da 1.ª conjugação, a 1.ª pessoa do plural do pretérito perfeito se escrever com acento agudo, como acontece com entregámos. No consultório, esclarece-se este traço de diversidade da nossa língua, a que se soma outra dúvida de natureza semelhante vinda de Angola, sobre a diferença de uso entre o adjetivo específico e o particípio passado especificado. Voltando ao Brasil, outra pergunta: de uma coisa, pode dizer-se que é bondosa? E, novamente em Portugal, o tema em questão é o estudo da gramática nas escolas: será que as frases interrogativas introduzidas por qual são agramaticais, porque nelas se omite frequentemente o verbo? Como classificar as construções que complementam os verbos acreditar e pensar? E a palavras como redondilha, soneto e poesia associam-se por vezes nomes e adjetivos com que função – a de complemento, ou a de modificador?
2. Na rubrica Notícias, dá-se exemplo de como a ratificação pela UNESCO do Dia Mundial da Língua Portuguesa tem tido impacto mediático em Portugal, disponibilizando a transcrição de uma notícia do Jornal de Notícias de 25/11/2019 e um apontamento que o jornalista Sérgio Almeida publicou no mesmo jornal em 26/11/2019. É de salientar que a referida proclamação tem o seu quê de excecional por se tratar da primeira vez que, como sublinhou o embaixador português na UNESCO, Sampaio da Nóvoa, se institui este tipo de comemoração para uma língua que (ainda) não tem estatuto oficial nesta organização.
3. Perante o cenário de manifestações e protestos desencadeados pela crise do ambiente, vão-se sedimentando certos termos no discurso, como é o caso de decrescimento, já há alguns anos saliente em usos mais ou menos especializados, associado a certas elaborações conceptuais e teóricas – em Portugal existe até um grupo denominado Rede para o Decrescimento. Paralelamente, acumulam-se as críticas e reações à chamada globalização, começando assim a desenhar-se uma exigência inversa, a de uma vontade de desglobalização, vocábulo igualmente a enraizar-se neste debate em português, que não está desacompanhado pelas línguas mais próximas. Com efeito, em Espanha, a Fundéu BBVA, precisando a definição do termo cognato castelhano, já emitiu uma recomendação sobre o emprego de desglobalización, que descreve como «termo válido para aludir ao fenómeno inverso ao da globalização, isto é, àquele em que especialmente a economia (mas também a sociedade, a política ou a cultura), após uma etapa de interação e interdependência mundiais, volta a ser mais local ou regional». Em português, portanto, a palavra desglobalização parece também marcar esta época e é bem possível que não tarde a entrar no dicionário.
4. Da atualidade que diz respeito à projeção académica do português, registe-se o anúncio de uma das mais importantes da Venezuela, a Universidade Católica Andrés Bello (UCAB), tencionar disponibilizar, a partir de 2020, um curso de língua portuguesa para os dez mil alunos que estudam na instituição. Para já, anteveem-se algumas interrogações entre os interessados quanto às dificuldades de aprendizagem do português, atendendo à sua diversidade, perguntas que se compreendem num país como a Venezuela, onde existe o contacto não só com o português do Brasil, mas também com a variedade madeirense do português europeu.
5. Nos programa que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa. dá-se igual realce a eventos e iniciativas promotores da projeção internacional do português (ver Notícias). Destaque particular para a consagração do Dia Internacional da Língua Portuguesa, tanto no programa Língua de Todos, transmitido pela RDP África na sexta-feira, dia 29 de novembro, pelas 13h20*, como no programa Páginas de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 1 de dezembro, pelas 12h30*. Outro tema em foco: a Conferência Internacional das Línguas Portuguesa e Espanhola (CILPE 2019), que a Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura levou a cabo nos dias 21 e 22 de novembro de 2019, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
* Ambos os programas têm repetição: o Língua de Todos, no sábado, dia 23 de novembro, depois do noticiário das 09h00, e o Páginas de Português no sábado seguinte, dia 30 de novembro, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.