1. As variantes do português em diversos países são marcadas por uma evolução própria e autónoma, fruto de várias razões a que não são alheias as variáveis individuais. O português falado na Guiné-Bissau assume também esta autonomia, mas as inovações e contrastes com a variante do português europeu acabam por oferecer dúvidas aos falantes. É o caso da expressão «fiz cinco anos no Brasil». No Consultório analisa-se a aceitabilidade desta construção, que inclui o verbo fazer com um valor semelhante a estar ou permanecer. A formação da palavra infelizmente continua a colocar problemas a quem a considera do ponto de vista morfológico. Tratar-se-á de uma formação parassintética, uma vez que existem as formas independentes infeliz e felizmente? O verbo ser assume inúmeras possibilidades de realização sintática e semântica, mas será sempre copulativo? Este problema coloca-se na frase «À noite serei em tua casa», o que gera a dúvida sobre se o sintagma preposicional «em tua casa» tem a função de predicativo do sujeito? A frase «Foi-lhe clemente» será correta, apesar de o adjetivo clemente se construir com complemento preposicional? Ou só será aceitável a forma «Foi clemente com ele»? E a expressão «a meu lado» será adequada sem artigo definido? Por fim, qual a pronúncia correta de Hefesto, deus grego do fogo, filho de Zeus e Hera?
Primeira imagem: Mapa do Português no mundo do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo (atualmente em reconstrução).
2. A questão do Acordo Ortográfico de 90 regressa por mão do consultor D'Silvas Filho, que apresenta dois apontamentos: um sobre a primeira reunião do Conselho de Ortografia da Língua Portuguesa (COLP) e outro sobre aspetos essenciais relacionados com a ação do Grupo de trabalho da Assembleia da República para a avaliação do Acordo Ortográfico de 90.
3. Há frases feitas que se agarram a situações e a contextos, o que as torna banais e esvaziadas. Onde está a beleza da comunicação ou a criatividade em «Está tudo bem?» ou em «Fica bem»? E, no comércio, como não esperar as previsíveis frases «Então, diga.», «Hoje, o que vai ser?» ou «Em que posso ajudá-lo.»? Frases feitas, não pensadas, que são usadas como expressões formulaicas, cujo sentido se perdeu por já não ser intencional, que só podem irritar quem as ouve e pensa no que poderão querer dizer. Eis o tema da crónica de Miguel Esteves Cardoso no jornal Público (de 16 de novembro), que, com a devida vénia, transcrevemos na rubrica O Nosso Idioma.
4. As expressões cristalizadas podem também adquirir um sentido opaco e não acessível a todos os falantes. Este fenómeno pode ter lugar se a construção da expressão assentar numa estrutura metafórica ou até numa comparação elíptica. Este último fenómeno está presente na expressão «como sardinha em lata», cujo sentido nos é explicado pela lexicógrafa Ana Salgado, num apontamento divulgado na plataforma Gerador.