Para compreendermos perfeitamente o que é denotação e conotação:
Do latim «denotase» (indicar por meio dum sinal, designar) provém o nosso denotar, isto é, revelar ou significar por meio de notas ou sinais; indicar. Dizemos então que «o olhar da Maria denotava preocupação». E do latim «denotatione(m)» (acção de marcar com um sinal, indicação) derivou o português denotação, isto é, acção de denotar; sinal, indicação. Em linguística, a denotação é o significado das palavras correspondente à representação unicamente mental comum evocada por elas, sem a carga da conotação. Dizemos, por exemplo, que a palavra árvore denota determinado ser vegetal, com determinada forma e estrutura. Dizemos que os substantivos denotam seres, que podem ser reais ou imaginários.
A denotação duma palavra é a relação entre ela e as pessoas, os animais, as coisas, as acções, os lugares, as propriedades, etc., exteriores ao sistema linguístico. Uma coisa é este sistema; outra, tudo aquilo que nos rodeia.
Para se compreender conotação, preferimos transcrever passos de obras que tratam deste assunto.
O «Dicionário de Termos Literários» de Harry Shaw diz o seguinte sobre conotação:
«As sugestões e associações que se ligam a uma palavra para lá do seu significado meramente literal constituem a sua denotação. Por exemplo: o sentido denotativo de ouro é 'um elemento metálico maleável, dúctil, amarelo, univalente e trivalente', mas o seu sentido conotativo é aquele que anda associado às ideias de cor, riqueza, poder, felicidade, cobiça, luxo, mal e avareza. Estas sugestões e implicações que estão para além do significado essencial de ouro constituem a sua conotação, as suas associações adicionadas ou acrescentadas. Mãe é o 'progenitor feminino', mas todos nós associamos a esta palavra significados pessoais e particulares, bem como significados de grupo, de origem nacional ou racial, e até conceitos universais do termo.
«Para um bom escritor, tanto as conotações como as denotações são importantes. Ele emprega os termos com um significado exacto e específico, mas sabe também que a falta de sensibilidade aos valores conotativos das palavras privaria a sua obra de encanto e de eficácia. Se ele nunca fizer uso da conotação, o seu estilo será mais rasteiro e desenxabido do que é admissível.
«Os cientistas e os filósofos tendem mais a usar as palavras no seu sentido denotativo; os escritores literários confiam na conotação para obter efeitos mais belos e exprimir significados mais profundos».
Vejamos agora a que se deve a conotação no «Dicionário Gramatical da Língua Portuguesa» de Celso Pedro Luft:
«Conotação – Parte do sentido de uma palavra que não corresponde à significação propriamente dita. É uma espécie de representação ou reação mental, subjetiva, simultânea ao significado objetivo.
«A conotação é resultante de variados fatores: a) da associação com outras palavras do mesmo campo semântico (assim associam-se palavras como negociante, negócio, negociata, comerciante, etc.); b) da capacidade sugestiva dos fonemas que integram a palavra (assim, algumas palavras parecem eufônicas, ao lado de outras cacofônicas); c) da ligação que a palavra tenha com determinada língua especial (gíria, calão, língua profissional ou técnica) (as palavras evocam o ambiente em que são usadas, as pessoas que as empregam; assim, os têrmos médicos, as palavras de baixo calão, etc.); d) do fato de a palavra ser arcaica, regional, estrangeira (ex.: asinha, alembrar, 'menu'); e) das impressões emocionais coletivas ou individuais: as experiências de um povo ou do indivíduo podem repercutir nas palavras, tornando-as agradáveis ou nefandas; assim, palavras capazes de condenar ódios raciais; f) da denotação da palavra, ligada a sensações agradáveis ou desagradáveis; assim, por ex., as palavras que denotam atos fisiológicos, doenças, e as que denotam objetos ou sêres belos.
«É por efeito da conotação que certas palavras são pejorativas; e assim se diz que uma palavra 'tem conotação pejorativa' (por ex.: mulher, dama, negócio)».
A conotação vemo-la na prosa e na poesia, mas esta é, por natureza, conotativa, como nos diz Massaud Moisés no seu «Dicionário de Termos Literários», 2.ª edição:
«Equivalente moderno da compreensão (soma de caracteres abrangidos por um conceito), empregada pela filosofia escolástica, a idéia de conotação somente se deixa esclarecer quando posta em confronto com a denotação. Ambas, porém, constituem matéria ainda não assente, quer na área da Lingüistica, quer da crítica literária.
«De modo geral, a conotação, vocábulo largamente empregado pelos lingüistas e críticos modernos, designa os vários sentidos que um signo lingüistico adquire no contacto com outros signos dentro do texto; por contigüidade, o sentido primitivo ou literal (denotativo) se altera e se amplifica, tornando-se plural ou multívoco. Ao mesmo tempo, por associação mental, encadeiam-se imagens ou alusões que remetem para significados fora do texto, sem contar a carga de subjetividade naturalmente presente ao ato de assinalar os múltiplos sentidos das palavras.
«Literariamente, pode-se distinguir a poesia da prosa, tomando-se por base a função e o alcance da conotação (ou conotações): a poesia é por natureza conotativa, ao passo que a prosa narrativa típica (não-poética) promove uma conciliação entre o processo conotativo e o denotativo. Enquanto num texto poético cada palavra pode assumir mais de um sentido, num texto prosístico o vocábulo isolado tende para a denotação, e só adquire matiz conotativa quando se leva em conta o conjunto da obra onde se inscreve».
Atentemos agora neste soneto, onde é evidente a conotação:
(De Gonçalves Crespo)
As mãos dessa franzina criatura
São feitas das camélias cetinosas;
Ressumbra na suavíssima textura
O azul das ténues veias caprichosas.
Levemente compridas, graciosas,
Escurecem das teclas a brancura,
E desprezam as lindas preguiçosas
Os finos arabescos da costura.
Os dedos são de jaspe modelado;
E as unhas... só podiam as paletas
De um chinês imitar-lhes o rosado.
Se alguém as beija em curvas etiquetas,
Sente um aroma doce e delicado
Como o aroma subtil das violetas.