1 – A pergunta feita não é estritamente linguística, antes dizendo respeito à adequação do significado das palavras ao referente do discurso. O adjetivo pátrio português significa «pertencente ou relativo a esse indivíduo, à sua língua, a Portugal ou ao seu povo», definição que pode legitimar interpretações que podem ir no sentido de considerar português o que quer que aconteça em Portugal. Por outras palavras, os adjetivos relativos a nacionalidade ou pertença a uma região (adjetivos pátrios e gentílicos – cf. Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, 1984, págs. 250/251) tanto remetem para um território como para as comunidades que aí se organizaram ao longo do tempo. Sendo assim, por uma questão de clareza, parece-nos coerente o critério que propõe, ou seja, reservar o adjetivo português para qualificar atividades desenvolvidas por portugueses, mas empregar «em Portugal» quando se trata de uma atividade levada a cabo em Portugal por cidadãos não portugueses.
2 – O mesmo se diga em relação ao uso do gentílico de Cascais, cascalense. Mas em relação a praias, a diferença entre «praias cascalenses», «praias de Cascais» e «praias em Cascais» é mínima, muito embora as duas primeiras expressões tenham uma relação de sinonímia mais estreita («praias que são de Cascais», por exemplo, do ponto de vista administrativo), aplicando-se a terceira, «praias em Cascais», a situações de comunicação em que se pretende relevar o facto de haver praias de Cascais, e não a relação (de posse ou domínio administrativo) entre essas praias e Cascais.
3 – Não conhecíamos o critério a que a consulente se refere, segundo o qual se considera ou considerava que adjetivos pátrios ou gentílicos só poderiam aplicar-se a seres humanos. Talvez se trate de um critério apenas adotado no âmbito das ciências documentais, porque a verdade é que, ao consultarmos obras de autores portugueses, mesmo de épocas anteriores, verificamos que não se observa tal restrição:
«Casos de fabricante que envie de Portugal uma aguarela para padrão de chita portuguesa são raríssimos. Porque mesmo não haveria quem nos fizesse em condições de gosto» (Fialho de Almeida, Os Gatos, 1889-1894, in Corpus do Português, de Mark Davies e Michael Ferreira).