Não me parece que a questão semântica dos verbos querer e requerer possa estar relacionada com as diferentes irregularidades que os verbos apresentam, pois, se assim fosse, à semelhança dos exemplos dados pela consulente (ver e rever), o verbo dar da 1.ª conjugação e o seu derivado circundar, como possuem significados relacionados, também deviam apresentar a mesma conjugação, o que não acontece. Com efeito, contrariamente ao verbo dar, que apresenta formas irregulares em vários tempos (dá, deu, dê, etc.), o seu derivado circundar não apresenta nenhuma dessas irregularidades, seguindo em tudo o paradigma dos verbos regulares da 1.ª conjugação.
Deste modo, e sabendo que os verbos irregulares são aqueles que se afastam do paradigma da sua conjugação, como querer, dar, estar, fazer, ser, pedir, ir, entre outros, não devemos descuidar o facto de que cada um destes verbos pode apresentar diferentes tipos de irregularidade. O verbo querer, em particular, oferece irregularidades nos tempos presente, pretérito perfeito, pretérito mais-que-perfeito do modo indicativo; e nos tempos presente, pretérito imperfeito e futuro do modo conjuntivo1. Já o seu derivado requerer faz requeiro na 1.ª pessoa do presente do indicativo2, mantendo, porém, a flexão de querer nas restantes pessoas do presente do indicativo e em todo o presente do conjuntivo (requeira); além disso, é regular no pretérito perfeito e nos tempos formados do seu radical: requeri, requereste, requereu, etc.; requerera, requereras, requerera, etc.; requeresse, requeresses, requeresse, etc.
1 Na Nova Gramática do Português Contemporâneo (2000, p. 431), Celso Cunha e Lindley Sintra observam ainda que:
1.ª «a par de quer, 3.ª pessoa do singular do PRESENTE DO INDICATIVO, emprega-se também quere no português europeu, quando a forma verbal vem acompanhada de um pronome enclítico: quere-a.»
2. A divergência entre quero e requeiro deve-se a razões históricas: Joseph-Maria Piel (Estudos de Linguística Histórica Galego-Portuguesa, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1989, 242, n.15) observa que existe uma forma queiro que «alterna em textos antigos com quero, o mesmo sucedendo com quera e queira».