Deve escrever-se cooócito ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AO 1990), mas a grafia será co-oócito se seguirmos o Acordo Ortográfico de 1945 (AO 1945) ou o Formulário Ortográfico de 1943 (FO 1943).
Se o consulente tem em mente o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras (VOLP-ABL), necessário é lembrar que, ao prefixo co-, o AO 1990 dedica uma observação especial na Base XVI, 1.º, logo depois da alínea b):
«Obs.: Nas formações com o prefixo co-, este aglutina-se em geral com o segundo elemento mesmo quando iniciado por o: coobrigação, coocupante, coordenar, cooperação, cooperar, etc.»
Parece que a referência a esta aglutinação se deve ao facto de muitas das palavras que apresentam a forma co- terem origem em palavras introduzidas em português como cultismos latinos. Mas nada se diz quanto à supressão do hífen antes de h (p. ex., co-herdeiro); a generalização da aglutinação é opção da Academia Brasileira de Letras conforme esta declara na nota explicativa da 5.ª edição do VOLP-ABL:
«São as seguintes as principais medidas tomadas por esta Comissão:[...]
9) Excluir o prefixo co- do caso 1.º, letra a, da Base XVI, por merecer do Acordo exceção especial na observação da letra b da mesma Base XVI e por também poder ser incluído no caso 2.º, letra b, da Base II (coabitar, coabilidade, etc.). Assim, por coerência, co-herdeiro passará a coerdeiro.»1
No VOLP-ABL repete-se este critério na nota editorial da 5.ª edição:
«B – Nas formações com prefixos ou radicais [...]
Não se emprega o hífen:
1) Nas formações com os prefixos co-, re-, pre- e pro-, mesmo nos encontros de vogais iguais ou quando o segundo elemento começa por h, como coautor, coocupante, coabitar, coerdeiro; reabilitar, reescrever; preexistência; proativo.»2
Deste modo se explica que no VOLP-ABL se registe coerdeiro, e não co-herdeiro.
Em Portugal, os vocabulários ortográficos disponíveis não coincidem com o critério adotado pela ABL; assim:
– A versão impressa do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, que a Porto Editora publicou em 2009, apresenta dupla grafia, ou seja, coerdeiro, com coerdade e coerdar, formas que constam do VOLP-ABL, e co-herdeiro, co-erdade, co-herdar, a que se juntam outros casos de hífen antes de h (co-homologia e co-homólogo, estes sem indicação de dupla grafia). Refira-se, porém, que a versão em linha, disponível na Infopédia, apenas inclui as formas hifenizadas.
– O Vocabulário Ortográfico do Português (disponível desde 2010 e reconhecido pelo Governo Português no princípio de 2011) parece seguir o VOLP-ABL, quando, em referência aos critérios seguidos, se diz que o hífen não é usado «[...] no caso de prefixos como co-, pre- e pro-, prefixos átonos, que já se justapunham, antes da aplicação do AO, sem hífen: [...] cooperação, preencher [...]». No entanto, regista co-herdeiro, o que leva a supor que o critério de supressão do hífen só de facto se aplica aos casos previstos pelo próprio AO 1990 (ver acima), ou seja, excetuando situações em que começa por h a palavra associada a este prefixo.
– O Vocabulário Ortográfico Atualizado da Língua Portuguesa (2012) da Academia das Ciências de Lisboa apenas grafa co-herdeiro.
Em suma, os vocabulários ortográficos elaborados e publicados em Portugal não aplicam a opção tomada pelo VOLP-ABL quanto à supressão do hífen com co- antes de h.
Qual é a situação que decorre das normas anteriores ao AO 1990, isto é, como se grafa co- ao abrigo das antigas normas ortográficas, o AO 1945 e o FO 1943, que, em Portugal e no Brasil, respetivamente, continuam em vigor até meados de 2015, data prevista para a plena vigência do AO 1990?
O AO 1945 determina que co- seja seguido de hífen, «quando este tem o sentido de «a par» e o segundo elemento tem vida autónoma: co-autor, co-dialecto, co-herdeiro, co-proprietário». O FO 1943 é omisso sobre o uso específico de co-, mas a lexicografia brasileira não se afastou da norma aplicada em Portugal, pelo menos, pelo que se infere do comentário que se faz no verbete de co- da primeira edição do Dicionário Houaiss, de 2001 (mantém-se a ortografia vigente no ano de publicação):
«[...] tanto a regra bras. quanto a port. recomendam que, com relação a co-, seja escrito com hífen, se a pal. seg. tiver existência autônoma e o sentido de co- for de ´a par de` (regra que, diga-se criticamente, cria muito embaraço, freqüentemente, ao usuário).»
De tudo isto se pode retirar a ilação de que a grafia questionada pelo consulente será co-oócito no quadro do AO 1945 e do FO 1943.
Seja como for, para concluir, importa sublinhar o consenso por parte de todos os vocabulários ortográficos que aplicam o AO 1990 relativamente à grafia do prefixo co- antes de qualquer vogal, inclusive o, pelo que cooócito é forma correta. Mas é preciso reconhecer a divergência entre o VOLP-ABL e os seus congéneres de Portugal, quando se trata de hifenizar co- antes de h.
1 Transcreva-se a propósito o que se diz na Base 2, 2.º, do AO 1990: «b) Quando, por via de composição, passa a interior e o elemento em que figura se aglutina ao precedente: biebdomadário, desarmonia, desumano, exaurir, inábil, lobisomem, reabilitar, reaver.» Observe-se que, nesta citação, não se incluem exemplos com o prefixo co-.
2 Note-se que a supressão do hífen depois de pre- e pro- não afeta o uso dos prefixos pré- e pró-, estes considerados como formas tónicas daqueles, o que ocasiona duplas formas no VOLP-ABL: pró-ativo e proativo.