Em resposta a esta questão, começo por dizer que a substituição de poderia por podia é possível mas não obrigatória, já que, em termos semânticos, o resultado não seria exatamente equivalente. Antes de ler a explicação que se segue, convido o consulente a consultar os Textos Relacionados, que poderão ser úteis para a resolução da sua dúvida, para além de servirem de complemento à resposta.
Consideremos a segunda parte do parágrafo original [a)], bem como o mesmo excerto alterado [b)]:
a) «Não valia a pena revoltar-se perante fatos que ninguém poderia ter evitado e que já não podiam ser alterados.»
b) «Não valia a pena revoltar-se perante fatos que ninguém podia ter evitado e que já não podiam ser alterados.»
Em a), o uso do condicional/futuro do pretérito convoca valores de probabilidade, suposição ou hipótese (isto é, valores modais não assertivos), que podemos tornar explícitos através da inclusão de novos elementos na frase, como nos seguintes exemplos:
«Não valia a pena revoltar-se perante fatos que [provavelmente] ninguém poderia ter evitado e que já não podiam ser alterados.»
«Não valia a pena revoltar-se perante fatos que [supostamente] ninguém poderia ter evitado e que já não podiam ser alterados.»
«Não valia a pena revoltar-se perante fatos que ninguém poderia ter evitado [a não ser que fosse possível alterar a ordem natural das coisas] e que já não podiam ser alterados.»
A opção pela formulação b) faria com que a interpretação do valor modal do segmento em análise fosse ambígua, uma vez que não poderíamos dizer inequivocamente se, por um lado, o uso do modo indicativo teria sido devido à intenção de deixar implícito o valor de asserção estrita1, ou se, por outro lado, estaríamos na presença de mais um caso de uso do imperfeito do indicativo em substituição do condicional/futuro do pretérito, devendo b) ser interpretada como a).
1 «[...] [V]alor modal pelo qual o enunciador assume inteiramente validar ou não validar uma relação predicativa. Sendo um valor modal, a asserção estrita, positiva ou negativa, resulta de uma operação de modalização e está em alternativa com os valores de interrogação, de exclamação, de ordem, de dúvida, etc.» (s. v. asserção, Dicionário de Termos Linguísticos, Lisboa, Edições Cosmos, 1992).