No padrão do português europeu, é inevitável "abreviar" essa vogal na oralidade, mesmo em situações formais. Em relação a esta variedade, quando na grafia se representam duas sílabas cujo núcleo é i, o primeiro deles é pronunciado como o e de degrau ou demasiado (o tradicionalmente chamado e mudo; símbolo fonético [ɨ])1, num processo denominado dissimilação. Sendo assim, numa pronúncia mais tensa ou pausada as palavras em discussão soam como "probabelidade", "responsabelidade" ou "possibelidade". Acontece que este som [ɨ], que só ocorre em sílabas átonas, tende a desaparecer (síncope) quando se imprime maior velocidade à expressão, com o resultado de tais vocábulos acabarem por serem produzidos como "probablidade", "responsablidade" ou "possiblidade", mesmo em situações formais2. Trata-se, portanto, de um fenómeno que se regista na oralidade (nunca se projeta na escrita) e que, dadas as propriedades acústicas do e mudo, é praticamente impossível controlar, a não ser que se retire naturalidade ao discurso.
Noutros dialetos do português europeu (por exemplo, em certos falares setentrionais) ou do português em geral, a vogal é sempre [i] na posição já descrita. Deste modo, mantém-se a correspondência regular entre grafia e fonia: probab[i]lidade; responsab[i]lidade; possib[i]ilidade. Não fazendo parte da norma-padrão, estas pronúncias são, no entanto, aceitáveis.
1Nos estudos linguísticos, costuma dizer-se que, nestas palavras, nota-se que a vogal átona [i] ([+alta] e [-recuada]) sofre um processo de recuo, transformando-se na vogal [ɨ] ([+alta] e [+recuada]). Ver resposta A definição de traços distintivos.
2Apresentando outros casos deste tipo dissimilação no padrão do português europeu, observa-se que em Filipe, ministro ou visita, o primeiro i passa a [[ɨ], enquanto o segundo se mantém como [i] (há exceções: em estilista, ambos os ii representam segmentos audíveis). Nestes exemplos, o primeiro i figura em sílabas átonas, e o segundo, em sílabas tónicas, mas a dissimilação também pode dar-se numa sequência de duas sílabas átonas: administrar, visitar, privilégio (apesar de exceções: em nitidez, ambos os ii se leem e ouvem como [i]). Finalmente, assinale-se que, no capítulo dedicado aos aspetos fonológicos e prosódicos do português da Gramática da Língua Portuguesa de Maria Helena Mira Mateus et al. (Caminho, 7.ª edição, p. 995), é referido que a vogal [ɨ] «ocorre entre consoantes, e entre consoante e fim de palavra, mas nunca no início». Mais importante, referem as autoras, «em fala coloquial, esta vogal é normalmente suprimida».