É, de facto, correto dizer-se «carne de peixe», porque o termo carne designa, também, «parte musculosa comestível do corpo de certos peixes e crustáceos» (Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, 2001, assim como «parte suculenta e comestível de certos frutos» (idem), como se pode verificar pelos exemplos apresentados pelo dicionário citado:
«O pargo tem uma carne muito saborosa.»
«Gosto muito da carne branca da lagosta.»
«Gostava, em miúdo, da carne vermelha da melancia.»
No entanto, importa lembrar que este é um dos significados/valores do termo carne (do latim caro, carnis), pois esta palavra designa várias outras realidades (entre as quais figura o sentido distinto do de peixe), de que se destacam as seguintes:
— substância mole, fibrosa, impregnada de sangue, que está entre a pele e os ossos do homem e dos animais, principalmente a parte vermelha dos músculos. Ex.: «O golpe rasgou a carne até ao osso.»
— parte do corpo com mais massa muscular; parte carnuda do corpo. Ex.: «Era muito alto, seco de carnes e tinha um ar carrancudo.»
— tecido muscular dos animais, mamíferos e aves, usado na alimentação. Ex.: «Prefere a carne ao peixe.»
— o corpo, por oposição à alma; a matéria por oposição ao espírito.
— a natureza sensual do homem por oposição à espiritual; as suas paixões e instintos (= sensualidade; luxúria; concupiscência). Ex.: «Mas era ela própria que sem cessar aludia a desvarios e pecados da carne — para os vituperar, com ódio.»
— parentesco por consanguinidade. Ex.: «Os filhos são carne da nossa carne.»
Fontes: Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, 2010; Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, 2009; Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, ob. cit.