Não existe qualquer problema em uma relativa livre (ver resposta As frases relativas livres ou sem antecedente) desempenhar a função de predicativo do objecto directo. A oração «quem não presta» é uma oração subordinada substantiva relativa introduzida com a função de predicativo do objecto directo. Quem é um pronome relativo sem antecedente.
Assinale-se que as relativas livres ocorrem igualmente como predicativo do sujeito:
«Ele é quem não presta.»
A possibilidade de o predicativo do sujeito ser realizado por uma oração substantiva é referida por Celso Cunha e Lindley Cintra, na sua Nova Gramática do Português Contemporâneo (Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1984, pág. 136), apoiando-se nos seguintes exemplos (o negrito é do original):
1. «A verdade é/que eu nunca me ralara muito com isso» (Maria Judite de Carvalho, [Os Armários Vazios, 2.ª ed., Amadora, Livraria Bertrand, 1978]107).
2. «Uma tarefa fundamental é/preservar a história humana» (Nélida Piñón, [A Força do Destino, 2.ª ed., Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1980], 73).
Nestes exemplos, têm função de predicativo do sujeito as orações substantivas completivas, «que eu nunca me ralara muito com isso» (finita) e «preservar a história humana» (não finita). Mas não me parece descabido generalizar a função de predicativo do sujeito e predicativo do objecto directo às orações relativas livres, porque estas são também substantivas.