A unidade fónica representada pela letra j ou por g, antes de e ou i, é representada pelo símbolo [Ʒ] e designada como consoante fricativa palatal sonora ou vozeada1 (cf. Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1984, pág. 45, e M.ª Helena Mira Mateus et al., Fonética e Fonologia do Português, Lisboa, Universidade Aberta, 2005, pág. 83). Trata-se de uma consoante que não se pode considerar rara nas línguas do mundo, visto ocorrer também em línguas europeias, indo-europeias, como o catalão e o inglês, ou não indo-europeias, como o húngaro:
catalão: llegir
inglês: vision
húngaro: rózsa
O Handbook of the International Phonetic Association (Cambridge, Cambridge University Press, 1999) inclui o símbolo [Ʒ] na descrição de outras línguas indo-europeias, como as da subfamília eslava (búlgaro, croata, checo, esloveno) e o persa, do ramo indo-iraniano. Esta unidade aparece ainda em línguas semíticas como o hebraico moderno e vários dialectos do árabe, estando ainda presente em idiomas do grupo túrquico (antigamente chamado altaico; cf. Lyle Campbell e Mauricio Mixco, A Glossary of Historical Linguistics, Edimburgo, Edinburgh University Press, 2007), mais concretamente, no turco. Mas, como compreenderá o consulente, não me é possível elencar todos os idiomas em que esta unidade ocorre, até porque de língua para língua há sempre pequenas diferenças articulatórias donde decorrem descrições distintas.2
1 Ou fricativa lâmino-pré-palatal vozeada, de acordo com António Emiliano, Fonética do Português Europeu: Descrição e Transcrição, Lisboa, Guimarães Editores, 2010, pág. 117.
2 Pode-se, contudo, consultar com alguma prudência o artigo em inglês da Wikipedia sobre a distribuição mundial deste som (classificado como voiced palato-alveolar sibilant). As línguas aí referidas como possuindo o som em apreço são as seguintes (algumas ainda não têm aportuguesamento fixado ou estabilizado): albanês, angas (família afro-asiática), árabe magrebino, arménio, avar (grupo caucásico de nordeste), azerbaijanês, cabila (língua berbere), berta (língua falada na Etiópia), búlgaro, checheno, corso, checo, neerlandês, inglês, esperanto, francês, alemão, georgiano, goemai (língua afro-asiática do subgrupo chadiano ou tchadiano — cf. Dicionário Houiass), gwich´in (família eyak-atabasca, na América do Norte — cf. Campbell e Mixco, op.cit.), hän (idem), hebraico, híndi, húngaro, ingucho , toscano (dialecto italiano), jul´hoan (da chamada família khoisan), cazaque, ladino, letão, lituano, macedónio, mingrélio (língua sul-caucasiana), navajo, mmockngie (dialecto do ngwe, língua do grupo Níger-Congo), dialectos occitânicos (gascão e auvérnio meridional), pastó, persa, romeno, servo-croata, lakota (grupo sioux, América do Norte), esloveno, dialectos espanhóis sul-americanos, tadaksahak (língua sohnghai, da família nilo-sahariana), tagish (família eyak-atabasca), turco, turcomeno, tutchone (família eyak-atabasca), ucraniano, urdu, veps (família fino-úgrica), welayta ou wolaytta (família afro-asiática, grupo omótico), frísio ocidental, iídiche, tilquiapan (língua do actual México, do grupo zapotecano, da família oto-mangueana, da área linguística mesoamericana).