As expressões em apreço correspondem a adverbiais de tempo realizados por sintagmas nominais.
Cito Mateus, Maria Helena Mira et al. 2003 — Gramática da Língua Portuguesa, Caminho (pp. 166-167):«A expressão de adverbiais de tempo é extremamente variada, podendo ser explicitada através de advérbios de tempo, de sintagmas preposicionais e também de sintagmas nominais.»
Mais adiante (p. 429) temos: «Na posição do advérbio ontem em (50) [O Luís partiu para Paris ontem] poderíamos encontrar SNs (esta manhã, esta noite, a semana passada, o mês passado)...».
Em nota da pág. 167 da mesma obra encontramos remissão para a tese de doutoramento de Telmo Móia (1999 — Identifying and Computing Temporal Locating Adverbials with a Particular Focus on Portugues and English, Universidade de Lisboa), com o resumo da sua descrição do fen{#ó|ô}meno, a saber: os sintagmas nominais de localização temporal são sempre sintagmas preposicionais em que a preposição se encontra a um nível mais abstracto de representação.
Deste modo, podemos concluir que, em português europeu, é admitida a não realização da preposição nestes adverbiais de localização temporal — fa{#c|}to que é atestado no texto de José Manuel Fernandes, mas também noutros:
Carlos de Oliveira, Casa na Duna
« — Então, e a tua peça? Terminei-a a semana passada.» Mário de Sá-Carneiro, A Confissão de Lúcio
« Ainda era pior! O ano passado, antes de os índios matarem Feliciano, seu Juca esteve em Todos-os-Santos... — E então?» Ferreira de Castro, A Selva
« — O ano passado, quando estive em Lisboa... Garrado voltou a pensar nas letras, na filha e no empréstimo.» Manuel da Fonseca, Cerromaior.