1. «Quinta-feira foi ao teatro.»
Como já tem sido referido no Ciberdúvidas (ver Textos Relacionados), a descrição linguística do português regista, como acontece noutras línguas, a existência de grupos nominais (ou sintagmas nominais) de localização temporal com interpretação adverbial (cf. M.ª Mira Mateus et al. Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Editorial Caminho, 2003, pág. 166/167) — é o caso de «quinta-feira» em «quinta-feira vou ao teatro». No entanto, há investigadores (por exemplo, Telmo Móia) que argumentam que esses grupos nominais são grupos preposicionais num nível mais abstrato de análise (ibidem).
A ocorrência de grupos nominais com função adverbial não se limita aos dias da semana, podendo verificar-se também com outros nomes relativos ao calendário como semana, mês, ano:
(1) «Esta semana/este mês/este ano mudei/vou mudar de casa.»1
2. «Segunda vou ao teatro.»
Intuitivamente, direi que, de facto, o uso dos dias da semana em grupos nominais de valor adverbial é feito em referência ao momento em que se fala (momento da enunciação). Se digo «segunda vou ao teatro», quero referir-me à segunda-feira imediatamente posterior ao dia em que falo. Perante uma frase «segunda-feira saí mais cedo», quero com isso significar que saí mais cedo na segunda-feira imediatamente anterior ao dia em que falo. Deste modo, as frases que a consulente apresenta como agramaticais (ponto 1 da pergunta: «terça...») são realmente muito marginais quanto à sua aceitabilidade, dado que os tempos verbais que aí ocorrem (mais-que-perfeito, imperfeito) não permitem localizar o adverbial «terça» em relação ao dia em que ocorre o momento da enunciação.
Contudo, há certas exceções. Por exemplo, os nomes dos dias da semana podem ocorrer como localizadores temporais em discurso relatado, podendo a localização temporal ser relativa a outra expressão de localização temporal, como ilustram os exemplos em (3) e (5).
(2) OK «Segunda vou ao teatro.»
(3) OK «Nesse dia, ele disse que segunda iria ao teatro.»
(4) OK «Segunda fui ao teatro.»
(5) OK «Nesse dia, ele disse que segunda tinha ido ao teatro.»
Uma consulta do Corpus do Português de Mark Davies e Michael Ferreira indica também que nomes de dias da semana sem artigo e não preposicionados podem ser usados como adverbiais de frequência, em contexto narrativo:
(6) «Sábado de tarde Senhora ficava horas e horas na salinha das contas preparando a féria dos homens [...].» (Dinah Silveira de Queiroz, A Muralha, 1954)
A leitura que se associa a «sábado de tarde» em (6) não é a de um único dia de uma dada semana, mas, sim, a de repetição de uma atividade num dado dia da semana, sendo a expressão nominal parafraseável por estas outras expressão nominais de sentido iterativo: «todos os sábados de tarde» (sem preposição) e «aos sábados de tarde» (com preposição).
1 O linguista Sérgio Matos, no artigo "Algumas considerações sobre adverbiais de localização e quantificação temporal" (Revista da Faculdade de Letras — "Línguas e Literaturas", Porto, 2000, págs. 175-201), fala em localizadores temporais dícticos (ou deícticos) na discussão relativa aos tipos de adverbiais de localização temporal.
Cf. Por que razão não chamamos «primeira-feira» à segunda-feira?