Papel temático é um termo que designa o tipo de relação semântica que se encontra associada aos argumentos de um predicador, ou seja, ao sujeito e aos complementos de um verbo ou simplesmente aos complementos de um substantivo ou adjectivo.
Na Gramática da Língua Portuguesa (2003), de Maria Helena Mira Mateus et al., observa-se que há vários papéis temáticos e que a terminologia que os identifica pode variar; a que é proposta por estas linguistas é a seguinte: Agente, Fonte, Experienciador, Locativo, Alvo e Tema. Apresentamos agora as respectivas definições (págs. 187-190; o papel temático em foco está em itálico nos exemplos):
«Agente é o papel temático do argumento que designa a entidade controladora, tipicamente humana, de uma dada situação.»
(i) Ex.: A Joana cortou o bolo.
«Fonte é o papel temático que designa a entidade que está na origem de uma dada situação, embora sem a controlar. [...] um argumento fonte pode designar uma força da Natureza, um lugar ou um ser animado que constituam o ponto de partida de uma mudança de estado, de lugar ou de posse.»
(ii) Ex.: (a) A chuva inundou as ruas.
(b) Fomos de avião de Lisboa para o Porto.
«Experienciador é o papel temático do argumento que designa a entidade que é a sede psicológica ou fisica de uma dada propriedade ou relação [...]»
(iii) Ex.: (a) A Joana gosta de bolos.
(b) O Ricardo ouviu a canção.
«Locativo é o papel temático do argumento que exprime a localização espacial de uma entidade. [...]»
(iv) Ex.: (a) Moramos no Rio de Janeiro.
(b) Enchi o saco com todas as compras.
«Alvo é o papel temático do argumento que designa a entidade para a qual algo foi transferido, num sentido locativo ou não. [...] a expressão com o papel de Alvo pode designar um ser humano, quando as frases descrevem situações de mudança de posse ou de comunicação linguística, ou um lugar, quando as frases descrevem situações de mudança de lugar.»
(v) Ex.: (a) A Joana deu um bolo ao Ricardo.
(b) A Rita pediu um subsídio à câmara.
(c) Fomos de avião de Lisboa para o Porto.
«Tema é o papel temático do argumento que designa que muda de lugar, de posse, de estado, em frases que descrevem situações dinâmicas [...]. O argumento com este papel pode designar uma entidade criada pela actividade expressa pelo verbo [...] ou afectada por tal actividade [...]. O papel de Tema pode também ser atribuído à entidade não controladora nem experienciadora de uma situação não dinâmica [...].»
(vi) Ex.: (a) A Joana cortou o bolo.
(b) A chuva inundou as ruas
(c) A Rita deu um bolo ao Ricardo.
(d) A Rute desmaiou.
(e) A Joana gosta do José.
(f) A Rosa mora no Porto.
(g) O António sabe árabe.
(h) A mala está na sala.
É importante frisar que as funções sintácticas não se confundem com os papéis temáticos. Por exemplo, ao sujeito de uma frase podem estar associados os papéis: de agente, como em (i); de fonte, como em (ii)(a): de experienciador, como em (iii)(a); de tema, como em (vi)(g). Do mesmo modo, um complemento directo pode ter o papel temático de locativo, como em (iv)(b), ou de tema, como em (vi)(b).