Bem sei que a literatura no domínio da gramática muitas vezes chama à forma -se partícula apassivante, designação que não convoca a discussão do eventual estatuto pronominal de -se. No entanto, a começar por Celso Cunha e Lindley Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo (pág. 308), encontram-se duas designações: «pronome apassivador», com verbos transitivos («fez-se silêncio») e «símbolo de indeterminação do sujeito» (com verbos intransitivos e transitivos tomados intransitivamente: «vive-se ao ar livre»).
Em Portugal, na Nomenclatura de 1967 consignam-se as expressões «palavra apassivante» e «sujeito indeterminado», mas sem as explicar nem as descrever. Na nova terminologia, regista-se se passivo e se impessoal, afirmando-se que em ambos os caso se trata de um pronome pessoal.
Pessoalmente, considero que há razões morofossintácticas e semânticas para classificar como pronome o se que ocorre em construções passivas («vendem-se casas» = «casas são vendidas») ou de sujeito nulo indeterminado («vende-se casas» = «há quem venda casas»). Mas compreende-se que o consulente prefira usar «partícula apassivante», uma vez que o estatuto pronominal de se na construção passiva parece esbater-se. Mesmo assim, acho que a classificação proposta pelo consulente não está mais correcta que a minha, pelas razões que já apontei.