Em 21 de fevereiro festeja-se o Dia Internacional da Língua Materna, instituído pela UNESCO em 17 de novembro de 1999. Em 2014, a celebração centra-se no reconhecimento de todas as línguas e no respeito por elas em todas as esferas do conhecimento, incluindo a educação e as ciências.
A diretora-geral da referida organização, Irina Bokova, assinala o significado desta data numa mensagem, também traduzida para esperanto, língua que, não sendo materna, também se associa às comemorações.
Segue-se o texto em esperanto, com uma introdução de Miguel Faria de Bastos, estudioso de interlinguística, e seguida da tradução em português.
O esperanto é uma língua de planeamento interétnico ou interglóssico, de gramática otimizada e grande flexibilidade semântica, ensinada em clubes e em Universidades da maior parte dos países do mundo, com mais de um século de existência, exercício e produção. Propõe-se ser uma língua veicular internacional, mas sempre residual e priorizadora das línguas étnicas ("naturais"), que ajuda a promover inclusive como instrumentos identitários e culturais a nível nacional e regional.
A UNESCO, que tem com a Associação Universal de Esperanto um estatuto permanente de relações consultivas, tomou duas deliberações que recomendam aos seus Estados-Membros o ensino do esperanto na escolas e Universidades – uma tomada na sua 4.ª Conferência Geral (Montevideu 1954) e outra tomada na sua 23.ª Conferência Geral (Sófia 1985).
Entre muitos outros reconhecimentos, o esperanto está reconhecido, há décadas, como língua litúrgica pelo Vaticano.
Intrigantemente ou talvez não, a China, a Rússia e o Brasil são os países que mais se aproximaram até hoje das ditas recomendações da UNESCO, quer em dispêndio argentário, quer em esforço de docência.
Texto em esperanto
MESAGHO DE IRINA BOKOVA POR LA TAGO DE LA GEPATRA LINGVO
Tago de la Gepatra Lingvo, 21 februaro 2014:
Mesagho de s-ino Irina Bokova, Ghenerala Direktoro de Unesko
De dek kvar jaroj Unesko kaj ghiaj partneroj festas la Internacian Tagon de la Gepatra Lingvo. Chie en la mondo estas organizataj aktivajhoj, konferencoj, koncertoj, seminarioj, por prilumi la gravecon de la lingva diverseco kaj multlingvismo.
La protektado kaj la antauenigo de la gepatraj lingvoj estas bazaj antaukondichoj por tutmonda civitaneco kaj vera reciproka interkomprenigho. La kompreno kaj parolkapablo en pluraj lingvoj kondukas al pli bona kompreno de la richeco de kulturaj interagoj en nia mondo. La agnosko de lokaj lingvoj permesas al pli da personoj sin esprimi kaj aktive partopreni en la komuna vivo. Tial Unesko faras chion eblan por progresigi la harmonian kunvivadon de la 7000 lingvoj parolataj de la homaro.
En tiu chi jaro ni speciale direktas nian atenton al la temo "Lokaj lingvoj por tutmonda civitaneco: la scienco en la fokuso", por montri kiom lingvoj ebligas la aliron al scio, ties chi transdono kaj plureco. Male al onidiroj, la lokaj lingvoj estas perfekte kapablaj transdoni la plej modernajn sciencajn sciojn en matematiko, fiziko, teknologio ktp. Agnoski tiujn lingvojn signifas ankau malfermi la pordon antau granda kvanto da diversaj tradiciaj konoj sciencaj ofte ignorataj, kaj plirichigi niajn konojn.
Lokaj lingvoj estas la pli granda parto de la parolataj lingvoj de nia planedo en la kampo de sciencoj. Ili estas ankau la pli minacataj. Ekskludi lingvojn signifas senigi iliajn parolantojn je ilia fundamenta homa rajto pri akiro de sciencaj konoj.
Samtempe, la alproksimigho de popoloj en "mondan vilaghon" ech pli necesigas la strebadojn por interkultura kompreno kaj dialogo. En la hodiaua mondo la normo estas uzo de minimume tri lingvoj, unu loka, unu pli vaste uzata kaj unu internacia lingvo por komuniki sur niveloj loka kaj tutmonda. Tiu diverseco lingva kaj kultura estas probable nia plej granda shanco por la futuro: por kreemo, novigo, inkluziveco. Ni ne malshparu ghin.
La Internacia Tago de la Gepatra Lingvo kontribuis jam de pli ol jardeko al la valorigo de la diversaj roloj de lingvoj en la formado de la pensmanieroj en largha senco, kaj al la konstruo de monda civitaneco, kie chiu havas la rimedojn por kontribui al la vivo kaj al la defioj de la socioj. Mi alvokas chiun membroshtaton de Unesko, la Internacian Organizajhon de la Francparolantaro, asociitan al chi tiu tago en 2014, la aktivulojn de la civila socio, la edukistojn, la kulturajn asociojn kaj la amaskomunikilojn fari sian maksimumon por daure subteni lingvan diversecon en la interesoj de paco kaj daurigebla evoluo.
Tradukis Stefano Keller
Estrarano de UEA pri eksteraj rilatoj
[Traduziu para Esperanto Stefan Keller, Diretor da Associação Universal de Esperanto para as relações exteriores]
Tradução de Esperanto para Português
Mensagem de Irina Bokova para o Dia da Língua Materna (textualmente: Parental, dos pais)
Dia da Língua Materna, 21 de fevereiro de 2014
Mensagem da Sra. Irina Bokova, Diretora Geral da UNESCO:
Há 14 anos que a UNESCO e os seus parceiros festejam o Dia Internacional da Língua Materna. Em todo o mundo estão a ser organizadas atividades, conferências, concertos e seminários, para dar mais visibilidade à importância da diversidade linguística e do plurilinguismo.
A proteção e a promoção das línguas maternas são requisitos básicos para uma cidadania planetária e para uma verdadeira intercompreensão recíproca. A compreensão e a capacidade de falar em plúrimas línguas conduz a uma melhor compreensão da riqueza de interações culturais no nosso mundo. O reconhecimento das línguas locais permite a mais pessoas exprimirem-se e participarem ativamente na vida comum. Por isso a UNESCO faz tudo o possível por fazer progredir a convivência harmoniosa das 7000 línguas faladas pela humanidade.
Neste ano dirigimos especialmente a atenção para o tema «Línguas locais para uma cidadania planetária: a ciência em foco», para mostrar quanto tornam as línguas possível o acesso ao conhecimento, à sua transmissão e à sua diversidade. Contra o que se vai ouvindo, as línguas locais são perfeitamente capazes de transmitir os conhecimentos científicos mais modernos na matemática, física, tecnologia, etc. Reconhecer essas línguas significa também abrir a porta perante grande quantidade de conhecimentos científicos tradicionais frequentemente ignorados e enriquecer mais os nossos conhecimentos.
As línguas locais são a maior parte das línguas faladas do nosso planeta no campo das ciências. São também elas as mais ameaçadas. Excluir línguas significa privar os seus falantes do seu direito humano fundamental à aquisição de conhecimentos científicos.
Ao mesmo tempo, a aproximação de povos no sentido de uma "aldeia global" torna ainda mais necessário o empenhamento a favor de uma compreensão intercultural e do diálogo. No mundo hodierno a norma é o uso de três línguas no mínimo – uma local, uma de uso mais abrangente e uma língua internacional para comunicação tanto a nível local como a nível planetário. Essa diversidade linguística e cultural é provavelmente a nossa maior oportunidade para o futuro: para a criatividade, a inovação e a inclusão. Não a desperdicemos.
O Dia Internacional da Língua Materna vem contribuindo há mais de uma década para a valorização dos diversos papéis das línguas na formação dos modos de pensar em sentido lato, assim como para a construção duma cidadania planetária, onde cada um tenha os meios de contribuir para a vida e os desafios das sociedades. Convoco todos os Estados-membros da UNESCO, a Organização Internacional da Francofonia, associada a este dia em 2014, os ativistas da sociedade civil, os educadores, as associações culturais e os media para darem o máximo no sentido de aguentarem duradouramente a diversidade linguística no interesse da paz e do desenvolvimento sustentado.
[traduziu de esperanto para português Miguel Faria de Bastos, advogado esperantófono – Luanda/Lisboa]