Toda e qualquer língua tende à variação. Esta situação é travada pela elaboração de uma norma-padrão, resultado de um processo histórico que tem fins político-administrativos e geralmente faz parte da afirmação de um Estado. É a norma-padrão que define como erro a variação ou o desvio em relação às formas-padrão, isto é, às formas supostamente conhecidas por toda uma comunidade de falantes e por estes tomadas como modelo de expressão. Casos como "framengo" ou "probrema" não são recentes e parecem continuar uma tendência generalizadora da língua que não é aceite pela norma. Por exemplo, sabe-se que prato evoluiu de uma forma latina hipotética *plattus por intermédio do francês plat (Dicionário Houaiss; cf. espanhol plato); a norma acolheu a forma prato, mas já não aceitou outras formas que davam continuação à tendência de a consoante líquida lateral [l] passar à vibrante simples [ɾ] (o "r" de caro) após consoante oclusiva: problema > "probrema") ou fricativa (flamengo > "framengo"). A avaliação e a rejeição destas formas devem-se a razões relacionadas com dinâmicas sociais, raramente claras, e são consideradas por sectores da população como legítimas (por muito que a maioria da população não faça assim).
Quando se trata de escrever textos ou fazer intervenções oralmente em situação formal, é óbvio que devemos obedecer à norma, por muito convencional e arbitrária que esta seja. Trata-se de um produto histórico que acabou por ganhar projeção social e alcançar o estatuto de modelo para as práticas linguísticas prestigiadas. Contudo, convém igualmente ter consciência de que os erros e desvios são muitas vezes arcaísmos que já foram usados e vistos como corretos ou inovações que podem um dia, havendo condições sociopolíticas, ganhar uso generalizado. Em suma, é necessário ter a noção do que em cada momento a sociedade valoriza e preza, pelo menos, quando pretendemos comunicar por escrito ou oralmente, em situações que requerem formalidade, o que não impede que estejamos também atentos à tradição ou à inovação que não são aceites pela norma e que até usemos essas formas em determinadas ocasiões. Trata-se, digamos, de ter cultura linguística, isto é, de cultivar a capacidade de adaptar e usar a língua em função dos registos mais diversificados, altos ou baixos.