É tal qual o que escreve o consulente. Ou seja:
1. O apelido da nova ministra portuguesa da Justiça escreve-se com v minúsculo, sem hífen e sem acento no u: van Dunem. É assim que ela e a sua família assinam – e, como tal, é assim que devemos grafar: Francisca van Dunem.
O apelido é de origem holandesa, como a própria magistrada luso-angolana contava ao semanário Expresso de 2009, assim recordado na peça que sobre ela veio à estampa no jornal Público de 29 de novembro p.p.: «É um nome tradicionalmente angolano, com quatro séculos. Vem de um holandês que trabalhou para a coroa portuguesa e se estabeleceu em Angola. Relacionou-se com uma angolana com quem teve uma larga prole. Os respectivos descendentes decidiram seguir o exemplo e há imensos Van Dunem”. Contudo, “nem todos os apelidos Van Dunem correspondem à linhagem original, pois não raras vezes os escravos tomavam o nome dos senhores”, refere um amigo de família, que solicita o anonimato.»
2. A adoção de corruptelas do nome vernáculo holandês pode, portanto, explicar as outras grafias que se disseminaram em Angola: com hífen, com o v maiúsculo e acento no u, como é caso do atual ministro da Saúde, José Van-Dúnem.*
3. Corruptela do vernáculo holandês ou menor rigor na sua grafia*, o que prevalece no uso – seja com os nomes próprios como com os apelidos – é o que ficou registado e é usado pela tradição familiar. Por isso, temos os Vítor e os Victor, os Aires e os Ayres, os Nobre Correia e os Nobre-Correia, os Queirós e os Queiroz, os Tomás e os Thomaz, e por aí adiante.
4. De qualquer modo, procurando afeiçoar o nome próprio em questão às regras ortográficas do português, não se justifica a forma “Dúnem” entre as suas variantes gráficas, porque as palavras graves terminadas por –m não têm acento gráfico (cf. imagem, nuvem, ordem). Daí que Dunem se saliente como grafia recomendável.**
* Na eventualidade de se pensar que o hífen se deve a alguma influência holandesa, fica esta observação de Luciano Eduardo de Oliveira, com os devidos agradecimentos: «Os nomes holandeses nunca usam hífen entre a preposição van e o termo seguinte (até porque é de preposição que se trata). Já o acento agudo tem uso restrito em holandês: é usado às vezes para enfatizar a palavra ou para a diferenciar de outra homógrafa, como vóór («antes«), em vez de voor («para»), caso o contexto não permita depreender o significado pretendido.»
**Esse menor rigor acontece, amiúde, como nesta notícia, com o apelido da nova ministra luso-angolana a ser grafado ora com hífen, ora sem hífen, e com o v maiúsculo… E acontece, em geral, com outros nomes holandeses com a preposição van – que deve ter o mesmo tratamento gráfico dos seus correspondentes von, em alemão, ou de, em português, espanhol e francês. Isto é: em maiúscula apenas quando isolada com o apelido, e em minúscula com nome completo. Por exemplo: Van Gaal, mas Louis van Gaal; Van Persie, mas Robin van Persie; Van Gogh, mas Vincent van Gogh. Tal como devemos escrever Von Braun, mas Wernher von Braun. De Gea (num caso espanhol), mas David de Gea, se escrevermos o nome completo. Ou, como já é muito usual no português, Dos Santos, mas José Eduardo dos Santos.
*** Para este esclarecimento, agradeço igualmente a colaboração de Carlos Rocha e D'Silvas Filho.