Deve pedir que lhe dêem um copo de água.
Leia-se o que escreveu o gramático brasileiro Napoleão Mendes de Almeida, no Dicionário de Questões Vernáculas:
«Copo d’água – Correto é o emprego da preposição ‘de’ em expressões como ‘uma xícara de café’, ‘um copo d’água’, ‘uma garrafa de cerveja’. Não há motivos que exijam a construção ‘um saco com açúcar’, ‘uma caixa com fósforos’, ‘um copo com água’, ‘uma garrafa com cerveja’, ‘uma barrica com pinga’, ‘Quantas cartolas com vinho o senhor quer?’, ‘A senhora deseja um cálice com licor ou um copo com água mineral?’.»
Ou o também brasileiro Vittorio Bergo, em Erros e Dúvidas de Linguagem (Editora Lar Católico, Juiz de Fora, Minas Gerais, 1959):
«Copo de água – Expressão correta.E caso de metonímia, em que se emprega o continente pelo conteúdo. Há quem procure, pretensiosamente, corrigir a frase, dizendo copo com água. Isto não significa a mesma coisa, pois desta maneira se daria a medida da água, expressa pela preposição de. Comparem-se os exemplos seguintes. "Ele tomou duas garrafas de cerveja". – "Desperdiçou-se um frasco de essência."– "Fabricam por dia doze vidros de loção". – "comem semanalmente seis latas de marmelada". – Ninguém substituiria de pela preposição com em tais frases, nas quais está expressa a medida da substância. Pela mesma razão é que se diz: Tomei um copo de água. Tomar um copo com água seria desastroso... Ex. : "Dão-me os senhores um copo d'água, se fazem o favor? (Camilo Castelo Branco, Brilhantes, 9-10.»
Esta diferença entre o de e o com ( e o para) explicou-a assim Rodrigo de Sá Nogueira (in Dicionário de Erros e Problemas de Linguagem, Livraria Clássica Editora, Lisboa,1974):
«Copo de água. Copo com água. Copo para água – Estas três expressões não se devem confundir: quando pedimos um copo de água, o uso estabeleceu que pretendemos um copo cheio de água; quando pedimos um copo com água, o uso estabeleceu que pretendemos um copo com alguma água; quando pedimos um copo para água, o uso estabeleceu que pretendemos um copo destinado a por ele se beber água, por ex. – Embora seja isso claro, muitos, por um critério linguístico errado, pedem num Café, por exemplo, "um copo ´com' água", e numa tabacaria "uma caixa 'com' fósforos", mas , que eu saiba, não pedem "um maço 'com' cigarros", "uma garrafa 'com' vinho do Porto", "um pacote 'com' algodão", "uma caixa 'com' papel de carta", "um barril 'com´vinho", etc.– O problema das preposições em português, como nas demais língua da Europa, não se resolve pela lógica: nele impera o uso geral.»
No mesmo sentido, é a recomendação de Augusto Moreno [in O Português Popular (Para a Boa Prosódia, Grafia e Sintaxe da Língua), II Volume, edição da Livraria Educação Nacional, Lisboa, 1931.]:
«P.– Deve-se pedir um copo de água ou um copo com água? (M.T.). R.– Um copo de água, se se quiser cheio; um copo com água, se quem pede não se importar de que o conteúdo seja apenas alguma. O complemento de água, além de conteúdo, indica também repleção; o complemento com água indica apenas conteúdo.
«P.– E copo da água ou copo para água? (M.T.). R.– De qualquer das maneira. Tanto da água como para água exprimem destinação. Diz-se de um ou de outro modo o copo destinado a beber água por ele.»