Se é verdade que, de modo geral, a terminação -um dos substantivos latinos neutros da primeira declinação passa a -o em português (por exemplo, templum > templo, verbum > verbo, vocabulum > vocábulo), importa igualmente recordar que, em vocábulos mais recentes, essa terminação, por vezes, se mantém, como no caso de álbum, factótum, fórum, embora os dois últimos admitam também uma variante com a terminação habitual (factoto, foro). O caso de vade-mécum, vocábulo que, traduzido à letra, significa «vai comigo», é um pouco diferente, porque a terminação -um “pertence” à preposição cum («com»).
Dos primeiros quatro topónimos apresentados pelo consulente, há um cujo aportuguesamento merece reparo. Em latim dizia-se Mogontiacum (com o), e, ao transpor este vocábulo para português, é necessário dar ao ti o valor fonético que ele tinha em latim tardio, pelo que o aportuguesamento correto será Mogoncíaco.
Quanto aos topónimos em cuja composição entra um genitivo plural da segunda declinação (terminação -orum), torna-se difícil aconselhar a forma mais correta, devido à escassa tradição de transposição desse tipo de vocábulos. Conheço apenas dois casos de vocábulos provenientes do genitivo plural latino. Um deles é o substantivo quórum, que provém de quorum («dos quais»), genitivo plural de qui ou quis («que, qual, quem»). O outro é santoro, nome de um bolo que os padrinhos costumavam dar aos afilhados no Dia de Todos os Santos. Este vocábulo é um aportuguesamento de sanctorum («dos santos»), genitivo plural de sanctus («santo»), e provém da expressão omnium sanctorum («de todos os santos»). Num dos vocábulos, precisamente aquele que se formou por via erudita, mantém-se a terminação -um, enquanto no outro, que nos chegou pela boca do povo, essa terminação sofreu a transformação habitual (-um > -o). Poderá esta referência servir-nos de guia? Estou em crer que a escassez de exemplos nos aconselha prudência, pelo que, no meu entender, será mais curial adotar a segunda via sugerida pelo consulente, ou seja, a tradução («Augusta dos Tréveros», etc.).
O aportuguesamento de topónimos latinos, aliás, nem sempre é fácil e linear, como, creio eu, ficou patente nesta resposta mais minuciosa que formulei sobre o assunto, e para a qual remeto o consulente e os leitores interessados.