De facto, tendo em conta a forma como o enunciado está construído, parece não haver dúvidas de que o verbo saber concorda com o constituinte músicas, sendo este o antecedente do pronome relativo que.
Assim, a não ser que haja efetivamente um erro de natureza sintático-semântica na construção da frase, dificilmente poderemos entender a mesma à luz mais restrita do significado da locução «saber bem» («ser saboroso; satisfazer o apetite; ter bom gosto, agradar» – Dicionário Houaiss; Infopédia): «Todas as músicas que sabe bem ouvir.»
Contudo, como refere o prezado consulente, trata-se, pelo que entendo, de uma espécie de spot publicitário adotado por uma rádio portuguesa. Deste modo, e tendo em conta o contexto específico em que se enquadra a referida frase, julgo que a podemos interpretar tendo em conta um escopo, digamos, mais criativo.
Assim, penso que não será descabido se aceitarmos a existência da elipse, por exemplo, do pronome vocês, entre os constituintes músicas e sabem, como forma de estabelecimento de pontes de contacto entre a rádio e o próprio ouvinte: «As músicas que (vocês) sabem bem ouvir», ou até – porque não? – de uma espécie de personificação das próprias músicas escolhidas pela estação radiofónica em causa: «As músicas que sabem bem ouvir (os gostos dos nossos ouvintes).» Neste caso, os responsáveis pelo referido spot poderiam eventualmente estar a querer dizer que, nesta rádio, escolhem-se as músicas «que sabem ouvir o ouvinte», isto é, que vão ao encontro dos gostos dos ouvintes, provando que a rádio está atenta e preocupada com o seu público-alvo.
Naturalmente que este spot, partindo do princípio que foi pensado para ter um determinado efeito no ouvinte, e de que não se encontra ferido por um erro sintático-semântico, acaba por fazer transparecer algo de enigmático, o que faz, por exemplo, com que o estejamos aqui a discutir e a analisar. É que, muitas das vezes, o objetivo é mesmo esse.