1. Quando analisamos um texto, devemos considerar dois níveis de critérios.
(i) O nível de critérios internos ao texto – atinentes à sua forma-conteúdo, implicados no saber-fazer textual, na técnica de textualização. Segundo estes critérios é possível apurar um feixe de características formais (umas mais centrais, outras mais periféricas) conducentes a abstracções, que são os tipos de texto ou tipos de sequências textuais.
Neste nível, temos:
– um tipo de sequência narrativa: com uma sucessão temporal-causal de acontecimentos, uma estrutura triádia preparação-culminação-resultado; com uma unidade temática e com uma moralidade;
– um tipo de sequência argumentativa: constituído pelo par argumento-conclusão, através do qual o locutor apresenta razões ou provas de modo a que o interlocutor aceite aquilo que ele defende, assente numa base pressuposicional comum;
– um tipo de sequência descritiva, com os processos básicos de designação, enumeração e qualificação;
– um tipo de sequência dialogal, ou seja, uma sequência poligerida com fórmulas de abertura, corpo e fórmulas de fechamento;
– um tipo de texto injuntivo ou instrucional, com um alinhamento não consecutivo
de acções não radicadas temporalmente.
(ii) O nível de critérios exteriores ao texto – respeitantes à situação de comunicação em que tem lugar uma produção discursiva real e à sua função comunicativa.
2. Para a produção de um discurso, o locutor combina um (ou mais) tipo(s) de sequência textual com uma função discursiva. Assim se entende que:– seja possível narrar um episódio (tipo) para descrever uma situação social (função);– uma instrução (função) se execute através da descrição de objectos e da descrição de acções (tipo);– a função argumentativa possa assumir o tipo/forma de texto narrativo ou descritivo, sempre que o locutor tenta agir sobre o outro, modificar as suas representações ou orientar a sua reflexão sobre um dado problema.
3. Compare-se:
a) Boticário: perfume que vem das flores.
b) UDACA: vinho que vem das uvas.
c) «Bazar»: palavra que vem do persa.
Em a) temos uma sequência descritiva com função argumentativa; esta função resulta de se contrariar uma base pressuposicional forte – a de que os perfumes são feitos, para além da destilação de flores, de substâncias sintéticas, álcool, fixador, etc; desta maneira é focada a pureza do perfume que conduzirá à conclusão: «comprar o produto é bom para si».
Em b) temos também um texto descritivo, mas a função argumentativa não funciona, porque, à partida, não há a pressuposição de que o vinho pode ser feito de algo que não seja de uvas.
Em c) temos um texto descritivo num discurso com função descritiva.
4. O exemplo a) – Boticário: o perfume que vem das flores – não é uma sequência injuntiva/instrucional, dado que não tem características formais típicas dessa sequência (os imperativos, os circunstanciais de fim, a enumeração de procedimentos não estão lá) e também não tem função discursiva injuntiva ou instrucional dado que lhe falta o carácter impositivo/obrigatório afecto aos procedimentos visados (neste caso, a compra do produto).