Começo por dizer que a expressão em inglês é ambígua, porque national pode modificar toda expressão «adaptation programme of action», ou simplesmente a palavra adaptation. Uma consulta na Internet indica que a primeira leitura deve ser favorecida, visto tratar-se de programas de adaptação à mudança climática à escala nacional.
Devo também advertir que em inglês é muito produtiva a composição nome + nome, como acontece no caso de «adaptation programme» (nome + nome), não estando sujeita, como em português, a um processo de fixação ou cristalização como unidades lexicais (lexicalização). Nesse tipo de compostos ingleses, o nome modificador pode ser traduzido de muitas maneiras em português, porque a interpretação abarca diferentes relações semânticas e não se restringe ao valor da construção portuguesa «[substantivo] de X». Ou seja, «aircraft engine» traduz-se como «motor de avião», mas relativamente a «tea lady doctor» é possível traduzir como «senhora com quem se costuma tomar chá», «senhora que vende chá», «senhora a quem pede chá (num estabelecimento comercial, por exemplo)».1 Não existe, portanto, uma regra para a tradução de expressões como estas, a não ser talvez certos padrões de interpretação que não poderão ser aqui definidos por causa das limitações que uma resposta como esta envolve.
Literalmente, a expressão inglesa corresponde a «programas de acção de adaptação nacionais», mas acontece que esta sequência não é aceitável em português, porque: a) o adjectivo fica demasiado afastado do substantivo com que concorda; b) «de Acção de Adaptação» dá azo a ambiguidades — [Programas [de Acção de Adaptação]] vs. [[Programas de Acção] de Adaptação].
Sendo assim, «programme of action» comporta-se como uma unidade, modificada pelo adjectivo «national» e pelo substantivo «adaptation». Contudo, sendo este substantivo modificador compatível com um valor de finalidade, direi que «Programas de Acção Nacionais para Adaptação» é a expressão mais correcta.
Quanto a «Programas Nacionais de Acção para Adaptação», sem a excluir por agramatical em português ou infiel ao original inglês, apresenta uma ambiguidade que reside em tomar «de Acção para Adaptação» como uma unidade semântica, em alternativa a «Programa de Acção».
1 Baseio-me num artigo de Riet Coolen at al., "The interpretation of novel nominal compounds", Memory and Cognition, 1991, 19 (4), 341-342, do qual transcrevo a seguinte passagem (idem, pág. 341):
«In normal language use, one often comes across compound words one has never encountered before. Most of these novel compounds are formed from familiar words for which semantic representations can be accessed. From a psychological point of view, processes underlying the creation of meanings for novel compounds are particularly interesting, because these compounds may be interpreted differently depending on the selection of particular semantic relations between the nouns [...]. For instance, a tea lady may denote "a lady one drinks tea with" or "a lady who sells tea" or even "a lady one orders tea from."»
[tradução livre: «No uso linguístico normal, deparamo-mos frequentemente com palavras que nunca encontrámos. Muitos destes compostos recém-criados são formados por palavras conhecidas a cujas representações semânticas se pode aceder. Do ponto de vista psicológico, os processos subjacentes à criação de significados de compostos recém-criados são particularmente interessantes, porque estes compostos podem ser interpretados de maneira diferente, dependendo da selecção de relações semânticas particulares entre os substantivos. Por exemplo, tea lady pode denotar «uma senhora com quem se toma chá», ou «uma senhora que vende chá», ou até «uma senhora a quem se pede chá [numa loja ou café]».