A dúvida da consulente deve-se ao facto de se tratar de uma frase cujo predicado é nominal, o que implica a presença do predicativo do sujeito, que, por sua vez, se refere ao sujeito, razão pela qual se questiona sobre a legitimidade da concordância do adjetivo cristão.
Ora, se o predicativo do sujeito fosse constituído unicamente por esse adjetivo (predicador de natureza adjetival), não haveria dúvida de que concordaria em género e em número com o sujeito:
«Tal operação, além de viciosa politicamente, é cristã.»
No entanto, não é esse o caso da frase que nos apresenta, pois aí o constituinte com a relação gramatical de predicativo do sujeito é uma expressão nominal qualitativa, razão pela qual não concorda com o sujeito, pois a concordância faz-se com os elementos do predicativo, no interior do constituinte. Por isso, relativamente ao adjetivo cristão, a sua flexão depende do substantivo a que se refere, pois é de regra que «o adjetivo assume o género do substantivo» (Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, p. 253). Ora, como fundo é um substantivo masculino, o adjetivo deve ter a forma masculina, concordando como substantivo que qualifica: fundo cristão:
«Tal operação, além de viciosa politicamente, é de fundo evidentemente cristão.»
A expressão «de fundo», em que ocorre a preposição de a preceder o nome/substantivo fundo (com o sentido de «natureza, caráter, cariz»), não configura um caso de locução adverbial1, pois não é usado com o valor de advérbio.
Trata-se de uma expressão em que a preposição de estabelece uma relação nocional com o substantivo fundo, tal como acontece com as expressões sinónimas «de cariz», «de teor», «de caráter», «de ordem».
1 Locução adverbial=[«o grupo geralmente constituído de preposição + substantivo (claro ou subentendido) que tem o valor e o emprego de advérbio: com efeito, de graça, às vezes, em silêncio, por prazer, sem dúvida, em breve, na verdade» (Bechara, Moderna Gramática Portuguesa, 2009, p. 289)]