Neste excerto, são usados três recursos estilísticos distintos:
1 – Sinestesia: figura de retórica que permite a transposição de sensações, ou seja, a atribuição de determinadas impressões sensoriais a um sentido que não lhes corresponde. Neste caso, o ar é de certa forma associado ao mar e passa também ele (o ar) a poder ser visualizado, através da cor azul, o que ajuda a acentuar a sua intensidade.
2 – Anadiplose: repetição da última palavra ou expressão de uma oração, frase (ou verso) no início da seguinte. Este processo permite reforçar o valor semântico do termo repetido, acabando por gerar um efeito de eco. Ex,: «[...] passa a virtude do peixezinho, da boca ao anzol, do anzol à linha, da linha à cana e da cana ao braço do pescador» (Padre António Vieira, Sermão de Santo António aos Peixes, cap. V). No que se refere ao caso concreto da frase que aqui nos traz, a repetição do verbo andar dá-nos a ideia da enorme vontade que o sujeito enunciador tem de ver e sentir o Sol e dos consequentes sacrifícios que está disposto a fazer para o conseguir.
3 – Hipérbole: Figura de pensamento que consiste na amplificação crescente, por excesso ou por defeito, de um determinado objecto, sentimento ou ideia, de forma a provocar no leitor ou ouvinte uma estranheza para além da realidade credível. Assim, nesta frase, através do recurso à hipérbole — «andar até ao Sol», acção manifestamente impossível de levar a cabo no mundo e na realidade em que vivemos —, o enunciador partilha com o leitor o fortíssimo desejo que tem de ver e sentir o Sol.