Transcrevemos o que regista o Dicionário de Provérbios e Curiosidades, de R. Magalhães Júnior (Editora Cultrix, São Paulo, 1959):
«Sem rei nem roque – Em situação difícil, periclitante. Trata-se de locução portuguesa, fundada no jogo do xadrez. É o mesmo que dizer: "Sem rei nem torre". Tal jogo, de origem oriental, foi adaptado na Europa, onde a pedra chamada "roch" (dromedário) foi substituída pela torre. Mudar a torre, no jogo de xadrez, ainda se chama rocar.»
Vejamos entretanto o que que sobre o substantivo roque escreveu José Pedro Machado, no seu Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa (Livros Horizonte, Lisboa, 3.ª edição, 1977):
«Roque – Peça de jogo de xadrez. Não creio que este vocábulo tenha vindo directamente do árabe para o português, tal como não me parece provável qualquer ligação entre o árabe "rukhkh" (apontado como origem desta palavra) e o castelhano “roque”, ao contrário do que pensa Corominas1. As dificuldades fonéticas são algumas, sobretudo se nos lembrarmos de que em castelhano esta palavra se documenta já em 1288. Creio, antes, que devemos procurar a origem de ambas as formas no ant. francês “roc”, designação da “torre de xadrez” na terminologia do séc. XII. A origem do vocábulo além-pirenaico estará, evidentemente, em idioma oriental, no árabe com mais probabilidades, mas a importação deve ter sido feita por outra via que não a hispânica. Séc. XVI: “Em algũas peças de marfim, que nós houvemos da Índia, o rei está sobre um elefante e o roque a cavalo...” , As Décadas de João de Barros, Diogo Couto, etc. II, IV, cap. 4, p. 179. A locução «(sem) rei nem roque», tirada da terminologia do jogo do xadrez e da expansão facilitada pela aliteração, também se documenta no séc. XVI: “Que não é tanta / que me faça Rei nem Roque./ Leixa-o carregar na manta. / Ler-lhe-ei Palmeirim”, António Prestes, Autos, p. 239 (cit. do Grande Dicionário Português ou Tesouro da Língua Portuguesa, pelo Dr. Frei Domingos Vieira, Porto, 1871-1874).»
Quanto à frase «o Roque [com R maiúsculo, por se tratar de um apelido] e a amiga», popularizada em textos do programa radiofónico “Pão Com Manteiga”, dos anos 80 do século passado, em Portugal, nada tem que ver com a expressão «sem rei nem roque».