Como me apresenta uma forma verbal descontextualizada, não sei se a quer considerar como forma do verbo sentir ou do verbo sentar, se no Presente do Indicativo, ou no do Imperativo, se esse "se" é um pronome reflexo ou uma partícula apassivante, hipóteses estas entre outras. Se me quiser enviar essa forma verbal integrada numa oração, num período ou num parágrafo, terei todo o gosto em tentar esclarecê-lo melhor.
Vou, no entanto, referir-me em geral à colocação proclítica (antes do verbo) dos pronomes oblíquos átonos.
No Brasil, a colocação dos pronomes átonos tem em conta aspectos de natureza fonética e sintáctica, devendo atender-se às exigências da eufonia.
Assim, geralmente ocorre a próclise em oito situações:
1.ª - em frases que contenham advérbios ou pronomes de valor negativo; nas frases negativas:
Não se importava nada com isso.
Nunca se tinha visto um chapéu daqueles.
Ninguém se calou.
Nada se compara a este feito.
2.ª - quando a forma verbal é precedida de um advérbio ou de um pronome indefinido:
Assim se constroem as ilusões.
Alguém se incomodou com o sucedido.
Tudo se esclareceu.
3.ª - nas orações interrogativas directas iniciadas por advérbios ou pronomes interrogativos:
Porque se foi embora? (norma lusa)
Quem se feriu?
4.º - nas frases exclamativas, quando a forma verbal é precedida de partícula de realce:
Como se sentia feliz!
5.º - em frases optativas (que exprimem desejo, conselho...)
Deus se lembre de mim!
Que se levante quem sabe!
6.ª - nas orações subordinadas
Penso que ele se foi embora.
Quando se apercebeu do que se estava a passar, já era tarde.
7.ª - em orações coordenadas sindéticas disjuntivas:
Ou se estuda, ou se trabalha.
8.ª - com o gerúndio regido da preposição em:
Em se pondo o Sol, tudo parece mais triste.
Como se nota, o pronome nunca surge a iniciar a frase. Aliás, isso é mesmo referido explicitamente na Moderna Gramática Portuguesa, de Evanildo Bechara, 37.ª edição, p. 588: "Não se inicia período por pronome átono."
No entanto, aí mesmo se refere também que no falar espontâneo esta regra é desrespeitada, alguns exemplos literários se afastam dela e, em expressões cristalizadas de cunho popular, o pronome aparece no início do período ("T'esconjuro!... sai, diabo!...").
Assim, no caso específico que me apresenta, ou seja, um verbo a iniciar o período, conquanto a regra seja a do emprego do pronome em posição enclítica (após o verbo), é admissível a posição proclítica (antes do verbo) na linguagem oral, no discurso directo e na realização poética da língua.