De forma resumida, direi que, na língua portuguesa, existem basicamente dois grandes padrões de ordem para os pronomes clíticos: à direita do verbo (posição enclítica), ou à esquerda do verbo (posição proclítica), sendo que a opção por um ou por outro não é livre, isto é, existem condições que determinam obrigatoriamente a ordem cl-V e condições que exigem a ordem V-cl.
No caso concreto da frase que a consulente propõe, constatamos estar na presença de uma oração subordinada causal introduzida pela conjunção subordinativa porque.
Ora, tanto na Gramática da Língua Portuguesa, de Maria Helena Mira Mateus e outros, como na Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Cintra e Cunha, as orações subordinadas finitas (todas as formas verbais à excepção das do infinitivo, gerúndio e particípio) são apontadas como um dos contextos que obrigam à opção pela próclise.
Deste modo, a presença de conjunções subordinativas que introduzem orações subordinadas adverbiais (causais, comparativas, concessivas, condicionais, consecutivas, finais, temporais) obriga ao uso da próclise, isto é, à opção pela ordem cl-V.
Assim, no contexto da frase sugerida, a opção correcta será cl-V: «Porque os contos de fadas se tornam realidade, convidamos...»
Valerá ainda a pena acrescentar que, no português do Brasil, o uso da próclise não só é obrigatório no contexto aqui analisado (orações subordinadas finitas), como também é possível – ou até mesmo preferencial –, ao contrário do que acontece no português europeu, no âmbito das orações absolutas (isto é, frases simples), principais e coordenadas, ex.: «O João a viu no cinema»; «Quando você quiser, eu lhe empresto o carro»; «O Sr. António zangou-se com o Rui e lhe deu com a porta na cara».
Bibliografia consultada: para além das gramáticas referidas, Inês Silva Duarte, «Variação Paramétrica e Ordem dos Clíticos», in Revista da Faculdade de Letras, Special Issue for the 50th anniversary of RFL (1983).