A própria descrição do consulente é prova de que ratelha existe ou existiu e é ou foi palavra usada entre falantes do meio piscatório de uma localidade do Norte de Portugal. É verdade que não encontro a palavra atestada, mas, como já se sabe, é inútil acreditar que palavras corretas são as que estão registadas no dicionário, e as que não se encontram atestadas estão erradas. Como diz Margarita Correia, em Os Dicionários Portugueses (Lisboa, Editorial Caminho, 2009, pág. 89), «[o] facto de uma palavra não se encontrar no dicionário não significa [...] necessariamente que ela não exista, mas apenas que ela pode ter ficado de fora deliberadamente, por lapso ou por mero esquecimento».
Convém assinalar, portanto, o registo de vocábulos que acusticamente podem explicar um pouco a forma ratelha: refiro-me a rateiro, «que ou o que caça ratos (diz-se de gato ou cão)» (Dicionário Houaiss; ver também o Grande Dicionário da Língua Portuguesa de José Pedro Machado), e rateira, que, além de significar «prostituta» (idem), pode significar ainda «gatuno de mosco [= roubo engenhoso], que rouba perfurando paredes, pavimentos ou tectos» (Guilherme Augusto Simões, Dicionário de Expressões Populares Portuguesas, Lisboa, Edições Dom Quixote, 1993). Acrescente-se que, no galego, rateira pode também ser uma adjetivo aplicado à «pessoa que rouba coisas de pouco valor» (dicionário da Real Academia Galega). Dada a afinidade do prtuguês setentrional com o galego, não é de descartar a possibilidade de ratelha vir de rateira "à galega", tendo sofrido alteração talvez por analogia com palavras como aselha, «desastrado», e balhelha, «aparvalhado».