A prolepse é a «antecipação, no discurso narrativo, de um evento acontecido mais tarde no plano da história», segundo a Infopédia. Como os sonhos de Leandro e Violeta* acabam por se tornar reais (o rei sonha que perde o trono, como, de facto, acontece mais tarde na peça; Violeta sonha com a rejeição do pai, como vem a concretizar-se na história), podemos, de acordo com a fonte consultada, afirmar que há uma prolepse.
Contudo, há quem considere que uma prolepse é apenas «[...] alteração da ordem sequencial dos acontecimentos, antecipando alguns que ainda não tenham ocorrido ou fazendo simplesmente um sumário de uma situação que virá a ocorrer [...]» (Lurdes Aguiar Trilho, "Prolepse", E-Dicionário de Termos Literários). Nesta perspetiva, uma premonição – o que abrange os sonhos premonitórios, como é o caso em discussão – não pode configurar uma prolepse, porque representa «situações que não vão surgir desenvolvidas posteriormente no texto, mas que apenas pretendem criar uma atmosfera de agoiro (ibidem). Adotando esta visão, dir-se-á que o sonho de Leandro cria uma atmosfera de agoiro, sem ser a antecipação exata do que lhe irá acontecer (a perda do trono, a sua expulsão pelas filhas). Mesmo assim, no caso do texto de Alice Vieira, parece muito difícil não atribuir aos sonhos a função de prolepse.