DÚVIDAS

Pôr-se em fuga

Agradecia um esclarecimento. O exemplo que vou dar não é lá muito "ortodoxo" mas foi assim que mo apresentaram. Desde já peço desculpa pela linguagem.
Quando eu era jornalista na "Capital", o chefe de Redacção atirava-se ao ar quando um jornalista escrevia:«O motorista que atropelou o rapaz, "pôs-se em fuga".». Vendo-se esta frase escrita correntemente nos jornais, ninguém já faz caso, mas a verdade é que o chefe de então ficava furioso e explicava desta forma pouco convidativa: «A fuga deve ser uma gaja muito boa para toda a gente se querer pôr em cima dela, já que quem se põe, põe-se em algo».
Será de facto erro?
Obrigada pelo tempo dispensado.

Resposta

É possível que o jornalista não gostasse da expressão por uma questão de estilo ou, então, por dela fazer uma interpretação literal. De facto, de entre os muitos significados de pôr, o primeiro é colocar e, na sua forma reflexa, colocar-se, que, seguido da preposição em, poderia originar o comentário que refere.
No entanto, no Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Sociedade de Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, lê-se a seguinte observação, a propósito do verbo pôr: «O verbo pôr, sob a forma reflexa, ou pronominal, e seguido de certos substantivos, regidos da preposição a, com ou em, equivale aos verbos derivados de radicais desses substantivos com uma significação incoativa: pôr-se aos brados, começar a bradar, pôr-se aos gritos, começar a gritar, pôr-se com justificações, começar a justificar-se; pôr-se em lamúria, começar a lamuriar-se».

E, a esta lista de exemplos, poder-se-ia acrescentar a expressão em causa: pôr-se em fuga, começar a fugir. Não parece, pois, que o jornalista tivesse razão na observação que fazia.

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