«Por mor de» é uma locução prepositiva que caiu em desuso apenas na comunidade de falantes representativa da norma-padrão. Por outras palavras, a construção deixou de estar disponível na consciência linguística dos falantes dos centros urbanos do litoral centro e sul, pelo menos. Não é, no entanto, um arcaísmo, não podendo caber na mesma classificação atribuída a palavras como soer, leixar, arrátel, etc. A locução pertence ao regist{#|r}o popular, mas não é possível assegurar que está circunscrita a uma área geográfica. Algo de semelhante se passa com a colocação da preposição na perífrase «vou a comer», difusamente usada no Nordeste e Beira Interior; ou com o uso da 2.ª pessoa do plural: «Onde ides?»
A locução «por via de + nome deverbal/nome abstracto» não está sinalizada nem como arcaísmo, nem como regionalismo. Eis algumas ocorrências da construção em contexto diversos:
«Emparelhamento por via de análise modal» (in Análise de movimento de corpos deformáveis usando visão computacional).
«A invocação de usucapião tanto pode ser feita por via de acção (ou reconvenção) como por via de excepção» (in Acórdão de Tribunal da Relação de Lisboa n.º 12 602, de 23 de Maio de 1996).
«E o mocito, decerto, por via dessa circunstância, nascera enfermiço.» (Alexandre Cabral, Margem Norte)
«Introduzido – por via de comissões nuns negócios de que nada percebia – na órbita do barão.» (Júlio Dantas, Abelhas Doiradas)
Quando seguida de verbo, é de admitir que a construção ocorra tendencialmente no registo oral e que não seja activada homogeneamente pela comunidade linguística — indicadores que de modo nenhum podem fundamentar a classificação de arcaísmo.