DÚVIDAS

Plural dos nomes compostos

Gostaria de saber o plural dos nomes compostos inseridos na frase abaixo e, se não for demais, que fosse explicado a regra utilizada para determinar a forma pela qual forem flexionados os mesmos.

«O guarda-livros trouxe o livro-caixa, o livro-razão e o livro-diário, mas não apresentou a conta-corrente do credor, o qual chegou no navio-escola.»

Resposta

O plural dos nomes compostos é, por vezes, complicado e um tanto controverso. É, pois, difícil expor regras sendo todas definitivas. De resto, expor doutrina sobre tal ou tal assunto está fora da acção do Ciberdúvidas, que se destina somente a esclarecer os nossos consulentes acerca das dúvidas apresentadas. E este assunto é um tanto vasto.

a) Quanto aos compostos de dois substantivos, diz a regra: geralmente, vão ambos para o plural, quando o composto é formado de dois substantivos unidos por hífen, como por exemplo abelha-mestra, abelhas-mestras. Compreende-se: cada uma daquelas abelhas é uma mestra, e cada uma daquelas mestras é uma abelha. Isto é, duas abelhas-mestras são ao mesmo tempo duas abelhas e duas mestras.

b) Quando, porém, o segundo elemento limita o primeiro, só o primeiro vai para o plural. É o caso, por exemplo, de café-concerto, cafés-concerto. Aqui, não é um café que é um concerto, e um concerto que é um café. É, sim, um café determinado, diferente dos outros - é destinado a concertos. Isto é, o segundo substantivo é como se fosse um complemento de destinação ou de indeterminação do primeiro. Não sei se me fiz entender.

c) Para nós, não há estudo tão vasto como o da Língua Portuguesa. Os outros saberes têm fronteiras de assuntos. A Língua Portuguesa não tem essas fronteiras, porque está em todos os assuntos - até nos que não existem, porque também falamos sobre o que não existe. É possível abranger todos os assuntos em que está a medicina, por exemplo. É impossível abranger todos os assuntos em que está presente a Língua Portuguesa.

Vem tudo isto a propósito do seguinte: em livro-diário estamos em presença dum livro que é um diário, e de um diário que é um livro? Se sim, o plural será livros-diários. Ou o segundo elemento diário existe como se fosse um complemento de destinação ou de determinação do primeiro? Se sim, o plural é livros-diário. Ou diário, neste caso, é um adjectivo? Se sim, o plural será livros-diários.

E agora uma pergunta: Se é verdade o que exponho, dá-se o mesmo caso com livro-caixa e livro-razão? Só quem tem contacto com isto, ou já teve, é que conhece o assunto.

d) Em conclusão: Só poderá responder nas seguintes condições:

- Elucidando-me sobre o assunto.

- Enviando-me cada uma das palavras inserida numa frase.

- Explicando a situação em que se emprega cada uma de tais palavras.

Nota. - Apesar de haver regras para formar o plural dos nomes compostos de dois substantivos ligados por hífen, há tendência para os pôr ambos no plural.

Vejamos agora o plural das seguintes palavras:

O guarda-livros – os guarda-livros.

A conta-corrente – as contas-correntes.

O navio-escola – os navios-escola.

Em navio-escola, só se pluraliza o primeiro elemento, porque o navio é destinado a uma escola. Isto é, escola determina, ou talvez melhor, identifica aqueles navios.

Embora seja esta a explicação, não se percebe muito bem. Isto é, se aquele navio é uma escola, e aquela escola é um navio, então dois daqueles navios são duas escolas, e duas daquelas escolas são dois navios. Sendo assim, parece que o plural devia ser navios-escolas. Talvez por casos semelhantes a este é que se vê tendência para, nas condições presentes, pluralizar ambos os elementos.

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