Depois de pesquisar em diversos dicionários, não encontrei qualquer referência ao verbo renhenhar. Assim sendo, proponho a descodificação do significado deste verbo com base no contexto em que ocorre, mas socorrendo-me também de algum conhecimento global sobre a obra de Mia Couto.
Observe-se [1], a passagem que o caro consulente refere, em Terra Sonâmbula, inserida num contexto um pouco mais alargado, e [2], um excerto do conto A Casa Marinha, onde encontramos o mesmo verbo:
[1] «Lá sentavam os mais velhos, de manhã até de noite. Eu queria ouvir suas antigas sabedorias. Disse-lhes que queria sair, juntar-me aos guerreiros naparamas. Os velhos nada falaram. Ficaram mastigando o tempo, renhenhando. Um deles, por fim, se abriu:
– Meu filho, os bandos têm serviço de matar. Os soldados têm serviço de não morrer. Nós somos o chão de uns e o tapete dos outros.»
[2] «O desremediado velho se dezembrava assim, para cá e para diante, todo concurvado enquanto pronunciava indecifráveis rezas. Me divertia aquele renhenhar dele, cabeça abaixo dos ombros, remexendo algas, conchas e troncos trazidos pelo mar de longínquas tempestades.»
Em [1], percebe-se que os velhos levaram algum tempo a pensar na resposta que haveriam de dar ao jovem Kindzu, o que indica que foi uma resposta refletida, cuidadosamente pensada, levando-nos a interpretar renhenhando como «refletindo, matutando». Já em [2], o contexto sugere-nos que renhenhar é como «sussurrar, murmurar».
Na obra de Mia Couto, é comum a presença dos velhos africanos, cujo discurso, detentor de sabedoria e feito de ensinamentos, é marcado pela lentidão, pelos silêncios, pelas longas pausas necessárias à reflexão, na tentativa de encontrar as palavras certas para os mais sábios conselhos. Há até quem sustente que «Há nesse silêncio uma escuta interior (do interior), que talvez seja a escuta de vozes antigas». ¹
Assim, juntando a informação apresentada a um aparente caráter onomatopaico da palavra, diria que renhenhar é «matutar murmurando», numa espécie de diálogo interior.
¹ CHAVES, Raquel Costa (2012). A Palavra em Transe: o sonho e o silêncio em Mia Couto (Dissertação de Mestrado em Estudos Literários), Belo Horizonte, Faculdade de Letras da UFMG: p. 36.