As regras da morfologia (flexão de plural) permitem o plural dos meses. Quanto aos numerais cardinais, se forem usados como substantivos, já a aplicação da regra tem limitações: temos um/uns, quatro/quatros, cinco/cincos, sete/setes, oito/oitos, nove/noves, onze/onzes, doze/dozes, treze/trezes, catorze/catorzes, quinze/quinzes, mas dois, três, seis e dezasseis são invariáveis; depois, noutros numerais a partir de vinte, é possível vinte/vintes, trinta/trintas, etc., mas estes, quando combinados com os numerais referentes às unidades (um, dois, três, etc.), parecem apresentar a marca de plural só no numeral correspondente às unidades, se este for flexionável («os vinte e setes» parece melhor que «os vintes e setes»).1
Para unidades de terceira ordem (centenas) e superiores (milhares, dezenas de milhares, etc.), a possibilidade de plural nos respectivos numerais torna-se teórica, uma vez que na prática mal se usam. Por exemplo, não vejo que o numeral cem se use no plural («os cens»?). São invariáveis os numerais terminados em -centos («o/os duzentos») e a forma mil («mil novecentos» e nunca *«mil novecento» ou *«miles novecentos» ou ), mas variáveis milhão, bilhão e bilião («o milhão/os milhões», «o bilião/os biliões»). E relativamente ao numeral correspondente a um ano de qualquer era, é duvidoso o emprego do plural mesmo que este seja possível na ordem das unidades; por exemplo, a respeito de episódios de Espaço 1999, uma série de culto da televisão britânica de finais da década de 70 do século passado: «tenho aqui dois "mil novecentos e noventa e nove"» vs. «tenho aqui dois "mil novecentos e noventa e noves"». Trata-se, portanto, de uma área em que geralmente não há necessidade em recorrer ao plural, o que explica, quanto a mim, a estranheza da ocorrência desta categoria gramatical com grande parte dos numerais cardinais.
Assinalo que se pode dizer por extenso «os primeiros de Janeiro» e até «os dozes de Outubro», mas não se deve escrever nunca o numeral seguido da marca de plural -s; é, portanto incorrecto escrever "25s de dezembro", "10s de dezembro", "31s de dezembro", "12s de outubro", "1999s", "2000s", "1800s", "2199s", "1945s", "1857s", "1776s", "2009s", "1971s", "2112s", "1983s", "2013s".
1Evanildo Bechara, na Moderna Gramática Portuguesa (Rio de Janeiro, Editora Lucerna, 2002, pág. 128), define um critério que, no entanto, não abrange os numerais constituídos por mais de uma palavra:
«[Vão para o plural] os nomes que exprimem número, quando aludem aos algarismos.
Na sua caderneta há três setes e dois oitos. Tire a prova dos noves. Há dois quatros a mais e três onzes a menos nessas parcelas.
Fazem exceção os terminados em -s (dois, três, seis), -z (dez) e mil, que são invariáveis.
Quatro seis e cinco dez.»