A palavra não é proparoxítona, mas, sim, paroxítona, porque mantém a acentuação do étimo grego, que é plēthō´rē,ēs1, «plenitude, superabundância, fartura, donde saciedade» e, como termo da medicina, «superabundância de sangue ou de humores», com acento tónico na penúltima sílaba.
Em português, já se escreveu "plectora" sem justificação etimológica. Com efeito, Rebelo Gonçalves, no seu Tratado da Ortografia da Língua Portuguesa (Coimbra, Editora Atlântida, 1947, pág. 88, n.º 1), comentou uma vez:
«Distinga-se de corrector, "o que corrige", corretor, "agente comercial", "inculcador". Esta última forma, notamo-lo de passagem, é do número de várias em que às vezes se intromete sem razão um c antes de t: obstectrícia, em vez de obstretícia; plectora, em vez de pletora; ractificar, em vez de ratificar; rectaguarda, em vez de retagurada; etc.»
Quanto ao acento, há realmente uma variante não recomendada, "plétora". Esta encontra equivalente no espanhol normativo plétora (ver dicionário da Real Academia Espanhola), palavra sobre a qual encontro um comentário na Internet (uma página do jornal ABC, edição de Sevilha, de 24/01/1991, pág. 48) que me parece lançar luz sobre a referida variante portuguesa:
«"Plétora"/"pletora". La "o" del griego "plethóre" era larga, y llevaba acento agudo. Si se usó "plethora" en latín, tuvo que ser llana. ¿De dónde, entonces, la esdrújula española? "Plétora" nació, según Corominas, a mediados del siglo XIX, época más afrancesada lingüísticamente que la nuestra. ¿Será torpe adaptación del francés "pléthore", por confusión del acento de la "é" cerrada francesa con el acento de intensidad que llevan en español todas las esdrújulas?»2
Sugiro, pois, que "plétora" tenha surgido em português também por erro de adaptação do francês pléthore.
1 O acento agudo, que marca o núcleo da sílaba t{#ó|ô}nica, devia estar sobreposto ao sinal de vogal longa (mácron). Por dificuldades técnicas, esse acento segue a vogal longa: ō´.
2 Minha tradução: «"Plétora"/"pletora". O "o" do grego "plethóre" era longo, e levava acento agudo. Se se usou "plethora" em latim, teve de ser [palavra] grave. Donde, então, a esdrúxula espanhola? "Plétora" nasceu, segundo Corominas, em meados do século XIX, época mais afrancesada linguisticamente que a nossa. Será desajeitada adaptação do francês "pléthore", por confusão do acento do "e" fechado com o acento de intensidade que levam em espanhol todas as esdrúxulas?»