De facto, essa forma verbal — «pensemos» — gera dúvidas, sobretudo, porque sabemos que o imperativo usa a primeira pessoa do plural do presente do conjuntivo. Repare-se que no próprio discurso transparece o misto de expressão do desejo do sujeito, um dos valores do conjuntivo (se não o privilegiado), e o de conselho/exortação que se adequa perfeitamente à mensagem do poema.
O sujeito poético, o eu que fala, está aí a aconselhar e a exprimir o seu desejo ao tu, à Lídia. É como se ele quisesse dizer: «Desejo que pensemos.» Aliás, ao longo de todo o poema é esse sentido que sobressai.
O caso do conjuntivo com valor de imperativo tem suscitado sempre muitas dúvidas. Mas basta pegar no que nos dizem Cunha e Cintra sobre o emprego do conjuntivo — «Quando usado em orações absolutas, ou orações principais, envolve sempre a acção verbal de um matriz afectivo que acentua fortemente a expressão da vontade do indivíduo que fala» (Nova Gramática do Português Contemporâneo, 2002, p. 464) — e a distinção do imperativo: «Cumpre distinguir das correspondentes do imperativo certas formas do presente do conjuntivo empregadas sem a anteposição do que. O imperativo, neste caso, exprime ordem, ou exortação; o conjuntivo, desejo, ou anelo» (idem).
Do mesmo modo, a Gramática da Língua Portuguesa (Lisboa, Caminho, 2003), de Mira Mateus et al., analisa a diferença entre os valores do imperativo e do presente do conjuntivo, porque sabemos que muitas vezes se confundem. Sobre o modo imperativo diz o seguinte: «O modo imperativo diferencia-se dos outros modos na medida em que se especializou na expressão da modalidade deôntica, relacionada com a ordem, embora seja formulada também através de outros meios» (p. 254), esclarecendo também que «este modo só apresenta formas para as segundas pessoas do singular e do plural, sendo substituído nos outros casos por formas do conjuntivo, nomeadamente a primeira pessoa do plural e a terceira pessoa do singular e do plural, como, por exemplo, em dance/dancemos/dancem. Quando se trata de formas negativas, o modo imperativo é também realizado em todas as pessoas pelo conjuntivo» (p. 256).
Por isso, não há dúvida de que a forma pensemos é o misto de imperativo e de presente do conjuntivo.