Na terminologia da gramática tradicional, todas as palavras apresentadas pela consulente eram classificadas como compostas por justaposição, precisamente porque cada um dos elementos das palavra está justaposto, conservando cada qual a sua integridade (Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, 17.ª ed., Lisboa, Sá da Costa, 2002, p. 106), o que significa que não sofreram a perda do respetivo acento tónico nem da sua integridade silábica. Repare-se que podemos separar cada um dos elementos como palavras completas:
Minissaia = mini + saia
Girassol = gira + sol
Madrepérola = madre + pérola
Passatempo = passa + tempo
Pontapé = ponta + pé
Malmequer = mal + me + quer
Distintas destas, as palavras compostas por aglutinação são aquelas que perderam parte da sua estrutura interna, tendo perdido assim «a ideia de composição, caso em que se subordinam a um único acento tónico e sofrem perda da integridade silábica» (idem). São os casos de:
Aguardente = água + ardente
Pernalta = perna + alta
Note-se que não é esta a terminologia linguística atual, contemplada no Dicionário Terminológico (DT), o recurso disponibilizado pelo Ministério de Educação português para o ensino básico e secundário. De acordo com o DT, o processo de formação de palavras por composição prevê dois casos – o de composição morfológica1 e o de composição morfossintática2 –, mas tal classificação baseia-se no tipo de relação e de estrutura de cada palavra que entra na formação.
De qualquer modo, as palavras apresentadas pela consulente são consideradas pela nova terminologia palavras lexicalizadas. Segundo Alina Vilalva, em «Formação de palavras: composição» (in Mira Mateus et alii, Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Caminho, 6.ª ed., 2003), esta designação deve-se ao facto de que, «de um modo geral, os compostos caracterizados como justapostos são compostos que sofreram apenas um processo de lexicalização semântica» (idem, p. 980), razão pela qual, «na descrição da composição morfossintática do português, estas palavras (assim como as aglutinadas) são praticamente irrelevantes, dado que se trata, nos dois casos, de formas lexicalizadas» (idem).
1 Segundo o DT, a composição morfológica carateriza-se como «Processo de composição que associa um radical a outro(s) radical(is) ou a uma ou mais palavras. De um modo geral, entre os radicais ou o radical e a palavra associada ocorre uma vogal de ligação. Exemplos: [agr]+i+[cultura] = [agricultura], [luso]+[descendente]= [luso-descendente], [psic]+o+[pata].
2 Processo de composição que associa duas ou mais palavras. A estrutura destes compostos depende da relação sintática e semântica entre os seus membros, o que tem consequências para a forma como são flexionados em número e fazem o contraste de género. Exemplos: As palavras [surdo-mudo], [guarda-chuva] ou [via láctea] são compostos morfossintáticos.
Nota: Sobre as palavras compostas por justaposição e aglutinação, veja-se as seguintes respostas: Palavras compostas: aglutinação e justaposição; Composição por aglutinação e composição por justaposição, novamente.