Segundo o Dicionário de Filosofia de Simon Blackburn (tradução portuguesa, 1997, Lisboa, Gradiva), teodiceia é a «parte da teologia em que se procura defender a bondade e a omnipotência de Deus perante o mal e o sofrimento que existem no mundo». Por seu lado, o Dicionário Houaiss explica que o termo tem origem no francês “théodicée”, atestado desde 1710, como tradução do alemão "Theodicee". Este vocábulo teria sido introduzido pelo filósofo G. W. Leibniz (1646-1716), sendo resultante da associação de dois termos gregos, ‘theós,oû’ («deus») e ‘díkaios,os,on’ («justo, correcto, honesto»), adjectivo derivado de ‘díké’ («justiça, direito»). Estas informações merecem duas breves observações, uma de carácter enciclopédico e outra de natureza linguística.
Em primeiro lugar, é curioso que o título relacione Lisboa com uma tragédia recente (o maremoto ou “tsunami” no Sueste asiático em Dezembro de 2004), evocando inevitavelmente o Terra[e]moto de Lisboa de 1755, que deu origem a uma intensa discussão de ideias em toda a Europa. Basta mencionar o célebre Cândido, em que Voltaire ridicularizava uma famosa máxima de Leibniz, segundo a qual viveríamos no melhor dos mundos possíveis. Se pensarmos que a actual situação na Europa e no mundo leva a reflectir sobre a capacidade, já não de Deus, mas de os políticos conseguirem ser justos, é, pois, natural que se aceite a formação do termo "politicodiceia", o qual continuará certamente o debate sobre o optimismo, iniciado duzentos e cinquenta anos atrás.
Por outro lado, note-se que a construção de "politicodiceia" pode ser discutível dentro da formação de palavras com radicais gregos, porque teodiceia e, para dar outro exemplo, etnodiceia facultam um modelo consistindo num primeiro elemento que tem origem num nome (‘theos’ e ‘éthnos’) e num outro, originado num adjectivo (‘díkaios’). "Politicodiceia" não segue exactamente este tipo de formação, porque apresenta um adjectivo, político, como primeiro elemento constituinte. De todas as maneiras, não vejo qualquer impedimento para a criação de tal neologismo, visto que é perfeitamente pronunciável em português.