Os dicionários registam “tsunami” com sentido equivalente a maremoto, grande onda devastadora. A ideia que nos fica é que maremoto é um termo vernáculo e que “tsunami” será um estrangeirismo (japonês) que deve ser evitado na comum língua. Como estrangeirismo, deve, assim, ser escrito entre comas duplas ou em itálico e sem acento circunflexo.
No entanto, já ouvi a seguinte distinção feita por um sismólogo:
Maremoto é um tremor de terra no fundo do mar, termo formado da mesma maneira que terremoto (ou terramoto), na terra-firme.
“Tsunami” é uma vaga de grande velocidade, podendo atingir centenas de quilómetros por hora (e portanto grande energia, atendendo a que, numa avaliação simplista, a energia duma massa em movimento depende do quadrado da velocidade). Esta vaga converte-se assim em corrente avassaladora, que não se extingue na praia.
Ora um “tsunami pode ser provocado por outros fenómenos (a explosão do vulcão de Krakatoa, na Indonésia, em Agosto de 1883, provocou ondas costeiras que chegaram ao canal da Mancha e mataram inúmeras pessoas). Quer dizer, portanto, que, se designarmos por maremoto o sismo no fundo do mar, a designação “tsunami” pode nem sequer lhe estar directamente relacionada.
Por outro lado, o termo parece ter adquirido aplicação universal. Além disso, já se escrevem palavras portuguesas derivadas (ex.: tsunaminogénico, esta sem necessidade de acento no a). Assim, não me escandaliza que o novo termo entre na língua, escrito sem comas nem grifo. Só que, então, é indispensável obedecer às normas em vigor para a nossa língua, como muito bem observa o companheiro José Fernandes.
A pronúncia ¦tsunâmi¦ da palavra entre comas não levanta objecções, mas sem comas deve escrever-se tsunâmi, para ter essa pronúncia, senão lê-se ¦tsunamí¦, como se lê, por exemplo, ali, parti, ou se leria *dandi se não tivesse o acento: dândi.
Claro que pode haver resistências à entrada de tsunâmi na comum língua, dado o grupo inicial ts contrariar a sua índole, mas também já temos tsé-tsé (com acentos), em vários dicionários (do banto “tsetse”), com variante cecé (além dos termos brasileiros: tsar, tsaricida, tsela, etc.). Da mesma maneira, sinto que podemos aceitar tsunâmi, com variante sunâmi (esta última meramente uma sugestão, que deixo aos lexicógrafos).
Ao seu dispor,