Na base do epíteto dado à seleção angolana — a palanca é um género de antílope, sendo a palanca-negra uma espécie particular — está um nome epiceno, ou seja, um nome que dispõe de um único valor de género, qualquer que seja o sexo da entidade referida. Referindo nós um grupo de jogadores do sexo masculino, poderá ser considerado natural que a apropriação metafórica do nome palanca seja antecedida do artigo definido os para marcar o género dos jogadores da equipa. Nesse sentido, temos também «o pantera negra», referente à antiga estrela do futebol português Eusébio, em vez de «a pantera negra». Ao nível linguístico, poder-se-ia argumentar que quando há um uso metafórico de um nome epiceno — nomes que têm os traços [+ ser animado] e [- humano] — este será antecedido de um determinante que concorda com a entidade a que remete e que altera o traço [- humano] em [+humano].
Contudo, esta proposta esbarra em exemplos nos quais não há concordância entre o artigo e o referente externo da metáfora: «Rommel, a raposa do deserto» (e não «o raposa», nem «raposão»), ou «as águias», seja como referência ao clube português Benfica, como nesta notícia, ou como referência ao nome de guerra da seleção nigeriana Super Águias (Super Eagles), como se lê nesta notícia.
Para complicar, não só poderemos ter «as águias», como também «os águias». Exemplos são Os Águias de Alpiarça ou o Clube Columbófilo Os Águias, que evoca, curiosamente, como epíteto o nome de um predador de pombos.
Tal como é observado nesta resposta, o género, entendido como marca linguística, é uma categoria formal, gramatical, não devendo, à partida, ser confundido com diferenciação em termos de identidade sexual. Talvez por isso, por haver um uso metafórico dos nomes epicenos, parece haver uma certa volição no uso do artigo, conforme se quer ou não salientar o género do referente metafórico externo a que o nome epiceno se refere.
Sendo possíveis as duas designações, o uso terá determinado, por agora, a opção por «os Palancas», refletindo o género dos jogadores da seleção angolana, embora seja também válida, e para alguns mais acertada, a designação «as Palancas», em que o artigo concorda com o género gramatical da palavra, tanto mais que não se confundirá com a seleção feminina de futebol, oficialmente designada por Welwitchia, uma planta existente no sul de Angola e na Namíbia.