Sumariamente, e apenas cingindo-me às vogais tónicas, o português manteve o vocalismo do latim vulgar. Assim, a longo ou breve do latim clássico deu a aberto no latim vulgar e no português; e longo deu e fechado no lat. vulg. e em port.; e breve passou a e aberto; i longo passou a i, enquanto o breve se tornou em e fechado (como o e longo, portanto); o o longo e o u breve deram ô (o fechado); o o breve deu o aberto, e, finalmente, o u longo deu u. A metafonia e outros factores analógicos têm, contudo, intervindo, produzindo certa e progressiva destabilização, especialmente na formação dos femininos e plurais; recentemente é a analogia o factor destabilizador. Quanto às vogais átonas a confusão ainda é maior, até porque a sua evolução não foi tão regular.
No espanhol e no romeno o e e o o são intermédios, nem abertos nem fechados.
Em português, verde (e verdes) tem o e tónico fechado (ê). Precioso, por exemplo, só tem o o tónico fechado no masculino do singular (nos outros três casos ele é aberto).
A lista dos plurais com o aberto (tipo almoços, poços) vai sempre aumentando, e há sempre umas quantas palavras em cujo plural se oscila entre ô e ó, até que acaba, analogicamente, por se impor a forma com o aberto. A lista do nosso maior foneticista, Gonçalves Viana, é já muito menor que a actual, e na vida duma pessoa são numerosos os casos em que há mudanças destas.
E há erros, claro, por pseudo-eruditismo. Assim, molho (na culinária) mantém o o fechado no plural, mas as pessoas menos avisadas abrem-no, por tal suceder com molho (de grelos, p. ex.) e o seu plural, ambos com o tónico aberto.
Isto daria um tratado; por isso desculpe não me alongar mais.